Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Xenia

A opressão em cor de rosa

por Bruno Carmelo

Este filme grego possui todos os elementos de um grande melodrama: dois irmãos órfãos de mãe, sofrendo preconceito na Grécia por serem albaneses, um deles oprimido por ser gay, o outro por trabalhar em um pequeno emprego e não poder concretizar o sonho de se tornar uma grande estrela da música. Como se faltassem clichês à mistura, eles ainda descobrem que o pai de ambos está vivo, é grego e milionário, podendo resolver os problemas financeiros e de nacionalidade dos dois num passe de mágica. Só falta encontrar este homem, em uma grande jornada de autodescoberta.

Como a descrição acima pode sugerir, Xenia não é um filme muito refinado. A direção é espalhafatosa, as imagens são berrantes, os acontecimentos são bruscos e muitas vezes inverossímeis. Ciente de que não tem um produto de grande complexidade em mãos, o diretor aposta em um festival de catarses insanas, incluindo a presença de um coelho gigante, um barco disponível aos personagens quando estão perdidos à beira do lago e um hotel vazio esperando por eles quando precisam se hospedar.

Xenia lembra um sonho pop, ou talvez a propaganda de um desses novos pares de tênis multicoloridos. A estética pode afugentar os espectadores, mas retirando as expectativas de aprofundamento na psicologia dos personagens, o parque de diversões tem seus atrativos. Kostas Nikouli é um jovem ator de talento, que se dedica bem ao personagem principal, compensando a expressividade limitada de Nikos Gelia, seu irmão em cena. Os momentos mais naturalistas, quando os dois dançam, bebem e tomam banho juntos, conferem uma intimidade interessante entre eles, permitindo que se sobressaiam aos estereótipos.

Mas entre esses instantes de respiro, o espectador tem que tolerar muitas cenas de navios iluminados por uma lua gigante, canções de uma diva repetidas pela narrativa e imagens cafonas do cabaré comandado por um velho gay extravagante. A odisseia destes pobres órfãos, sem surpresas, passa pelo reconhecimento na mídia: o mais velho deles quer se tornar o novo astro grego em um concurso televisivo de calouros. Pelo caminho, alguns tiros disparados, lágrimas e gritos, como numa versão masculina, teen e gay de Thelma & Louise.

Enquanto jornada de redenção dos pobres oprimidos, Xenia é um filme idealista e edulcorado. Seu otimismo inabalável transforma as importantes questões da sexualidade e da imigração em meros panos de fundo para justificar a tristeza dos personagens. A história pode funcionar como passatempo escapista, mas talvez assuntos tão graves merecessem mais do que um tapinha nas costas e uma mensagem camarada do tipo “Calma, um dia as coisas vão dar certo”.

Filme visto no Festival do Rio, em setembro de 2014.