Críticas AdoroCinema
4,5
Ótimo
Sete Minutos Depois da Meia-Noite

O choro é livre. E genuíno.

por Renato Hermsdorff

O espanhol Juan Antonio Bayona (ou J. A. Bayona como assina atualmente) chamou a atenção do mundo cinematográfico quando despontou com o (envolvente) terror O Orfanato (2008). O filme serviu de cartão de visitas para que ele entrasse em Hollywood pela porta da frente, e o resultado foi (o excessivo) O Impossível (2012), em que comanda Naomi Watts e Ewan McGregor lidando com o tsunami que assolou a Tailândia no fim de 2004. "Hypado", o moço foi escalado para dar sequência a Guerra Mundial Z eJurassic World.

Até lá, no entanto, há uma árvore no caminho do diretor, que investe, agora, com Sete Minutos Depois da Meia-Noite, no universo da fantasia. A produção, que começa como uma história comum de desabrochar da infância (o tal "coming of age", de que Hollywood tanto gosta), se revela uma tocante lição de vida sobre como lidar com o luto. 

No filme, Conor (Lewis MacDougall, o "Nibs" de Peter Pan) é um garoto de 13 anos que se julga invisível – o típico "outsider", talentoso (ele desenha) e vítima de "bullying". Filho de um pai (Toby Kebbell) um tanto ausente, o menino é apegado à mãe (Felicity Jones) que, no entanto, padece de uma grave doença. Por isso, ele passa a conviver mais com a quase desconhecida avó (Sigourney Weaver), que não tem muito tato com os mais jovens. Diante desse cenário nada... confortável?, ele acaba acidentalmente convocando um monstro em forma de árvore (voz de Liam Neeson), que aparece sempre sete minutos depois da meia-noite.

Com um enredo desses, o filme tenderia a caminhar na fina linha entre o melodrama forçoso e a emoção genuína. Mas – e essa é a boa notícia – desequilibra para o segundo lado.

Na forma, há o contraponto entre a grandiosidade dos efeitos visuais – com uma impressionante riqueza de detalhes que vai desde a “construção” do tal monstro ao cenário de ruínas do entorno –, e o capricho milimétrico com que Bayona trata os quadros, sobretudo quando filma em macro os belíssimos desenhos do protagonista (ponto para a direção de arte), e captura a mansidão com que o apontador descama o lápis.

Mas é na costura das relações pessoas (e diálogos!) do roteiro de Patrick Ness (autor também do romance no qual o filme se baseia) que A Monster Calls (no original) ganha definitivamente o espectador.

Se, por um lado, o pano de fundo (de frente mesmo) da situação da mãe (comedida na medida no registro de Felicity Jones) corta o coração da plateia, a necessária dureza da avó balanceia a trama como um chamado à vida ("pero sin perder la ternura"). Mas é no olhar que o jovem Lewis MacDougall consegue reter toda a melancolia represada, fundamental a seu personagem. Para completar, se é para chamar um monstro, que ele venha com a voz de Liam Neeson.

Portanto, partindo de um ponto inocente – e até clichê – da “busca pela identidade”, Sete Minutos Depois da Meia-Noite resulta em uma metáfora madura sobre como lidar com uma conjuntura tão triste quanto inevitável: a iminência da perda de um ente querido. Ainda mais numa fase em que se é "velho demais para ser criança e muito novo para ser um homem". O choro é livre. E genuíno.

Filme visto no 41º Toronto International Film Festival, em setembro de 2016.