Nem tudo é incrível
por Francisco RussoNa era em que todo estúdio sonha em ter uma marca valiosa em mãos, Uma Aventura LEGO nasceu como divisor de águas. Afinal de contas, ao invés de um personagem era explorado um conceito, o do popular jogo de pecinhas através do qual era possível construir absolutamente qualquer coisa - e, por mais que ele seja mundialmente conhecido, havia o desafio acerca de como criar uma história em tal contexto. A solução para este deserto narrativo veio da mente criativa da dupla Phil Lord e Christopher Miller, que estabeleceu o tom que viria a se tornar marca registrada da franquia: o sarcasmo, mesclado a um sem número de citações à cultura pop.
Diante disto, é óbvio que Uma Aventura LEGO 2 não foge desta proposta. Só que, quatro filmes depois - não se esqueça de LEGO Batman e LEGO Ninjago -, a fórmula está desgastada. A estética em torno dos movimentos dos personagens, fiel ao próprio brinquedo, não é mais novidade e a boa sacada do intercâmbio entre o mundo real e a imaginação construída em LEGO perdeu o frescor, também pela insistência em um viés moralista, acerca da convivência entre irmãos. Sobra então o tom crítico bem-humorado, que com habilidade lida com a intencional incoerência de ser este também um ícone da cultura pop, ou seja, o mesmo produto que tanto satiriza. Isso, mais uma vez, faz parte do combo elaborado por Lord & Miller, lá no primeiro filme.
Agora dirigido por Mike Mitchell (Shrek para Sempre e Trolls), Uma Aventura LEGO 2 tem início relembrando o desfecho do antecessor, de forma a construir uma narrativa interligada. O salto de cinco anos entre os dois filmes é cômodo ao alterar drasticamente a ambientação, assumindo o tom de distopia futurista que serve a brincadeiras visuais com Planeta dos Macacos e, especialmente, Mad Max: Estrada da Fúria. Porém, tal proposta dura pouco: a súbita aparição dos inimigos, sempre com armas fofinhas - contradição típica da franquia -, faz com que o longa rapidamente enverede rumo a uma aventura espacial, contando com a transição constante (e cansativa) entre a animação e o live-action.
Por mais que realoque personagens e elementos do primeiro filme, falta a esta sequência criatividade na construção da narrativa. Ela até surge em breves momentos, nas piadas rápidas que tão bem servem para citações ou gags visuais, mas apenas nisso. Não por acaso, vários dos coadjuvantes que brilharam no filme original aqui aparecem opacos e até mesmo sem função - a exceção fica por conta do Batman, com seu delicioso ego inflado -, assim como as novidades soam preguiçosas, mais no sentido de vender outra modalidade de bonecos ou mesmo em brincar com o histórico cinematográfico de seu astro maior, Chris Pratt. Soma-se a isso a má qualidade das novas canções apresentadas, algumas até interessantes na letra mas de pouca inspiração na melodia - mesmo levando em consideração quando tal proposta é intencional, no sentido de cutucar a indústria musical e suas incansáveis músicas-chiclete.
A grande verdade é que, em seu quarto filme, os filmes LEGO precisam de uma reinvenção para seguir em frente. Por mais que a fórmula clássica até traga momentos divertidos, como a breve citação à Marvel, a autoironia em relação à Liga da Justiça e o próprio Batman, especialmente na boa canção "Gotham City Guys", todo o restante soa burocrático e repetitivo. Ainda diverte, mas por pouco.