Para sempre Julianne
por Renato HermsdorffJulianne Moore ganhou mais de 30 prêmios por sua atuação em Para Sempre Alice – incluindo O Oscar, o Globo de Ouro, o Spirit Award, BAFTA, o SAG e o Hollywood Awards. E o longa-metragem, no entanto, não foi indicado em nenhuma categoria de “melhor filme” na temporada de premiações. O motivo é simples: Still Alice, no original, é um filme de atriz. E que atriz!
Baseado no romance homônimo de Lisa Genova, o longa conta a história Alice Howland, uma linguista de sucesso, diagnosticada com Alzheimer aos 50 anos – o que é raro para a idade. E é basicamente disso que se trata a obra (tanto o livro quanto o filme).
Retrato fiel de uma família classe média alta nova iorquina, cabem na foto a preocupação dos pais com o futuro (genético, inclusive) dos filhos (eles são três, mas é na oposição das filhas de perfil bem distinto, vividas por Kate Bosworth, muito bem, e Kristen Stewart, apenas ok, que o filme ganha um filtro sutil); a impossibilidade de acompanhar a evolução socioeconômica do marido (um registro delicado de Alec Baldwin); e a incapacidade de lecionar plenamente – elementos da ordem das relações humanas, portanto.
Mas o longa é basicamente a documentação da evolução médica de um quadro clínico. Com exceção de uma cena, em que a protagonista esquece o caminho de volta para casa logo depois de uma corrida, ainda no início do filme, Para Sempre Alice não é lá muito “cinematográfico”. Convencional, o filme dirigido pelos poucos conhecidos Richard Glatzer e Wash Westmoreland (Meus 15 Anos) está longe de ser ruim, mas não traz nenhum elemento de destaque, ou melhor, pelo lado positivo há a interpretação de Moore; e, pesa negativamente uma irritante trilha sonora que, muito presente, força a mão (e os ouvidos), no intuito de orientar – e mesmo antecipar – os sentimentos do espectador. Como se o assunto já não fosse espinhoso demais.
Com Moore no centro da tela praticamente durante toda a projeção, o trabalho dela é irrepreensível. Ela consegue dar corpo a um personagem contemporâneo, sem cair em maneirismos. Ao longo de quase duas horas, fica a impressão de que a atriz viveu uma verdadeira maratona, um esforço que chega a ser físico, desde quando aparecem os primeiros intomas até... bom, até onde o filme permite que se acompanhe a personagem.
Se a atriz não precisava provar nada para ninguém (vide seus trabalhos em As Horas,Longe do Paraíso, Fim de Caso, Boogie Nights - Prazer Sem Limites – todos que lhe renderam indicações ao Oscar), a estatueta foi a consagração por mais uma atuação de alto nível (e não um prêmio de consolação). E, embora não pareça – e daí o êxito –, há um excelente trabalho das equipes de maquiagem e figurino por trás da personagem, o que fica claro quando se contrapõe a imagem da Alice do início dessa barra pesada com a do fim da história.
Mas, no fim, Julianne Moore é maior do que Alice, ou melhor, do que Para Sempre Alice.