Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Amnésia

Como lidar com traumas

por Bruno Carmelo

Um homem jovem e uma mulher idosa em cena. Um representa a modernidade, e a outra, a tradição. Ele gosta de música eletrônica, ela prefere música clássica. Ele acredita que a história deve ser superada para seguir em frente, ela defende que traumas como o nazismo jamais sejam esquecidos.  Estes são praticamente os dois únicos personagens de Amnésia, drama de Barbet Schroeder que discute a melhor maneira de lidar com as heranças traumáticas de uma nação, no caso, a Alemanha e o genocídio.

A história se passa em Ibiza, sul da Espanha, onde a câmera busca captar a beleza das pequenas casas encrustadas nas montanhas e das florestas ao redor, geralmente ao pôr do sol ou ao amanhecer. A imagem nunca abandona este fundo de cartão postal, já que toda a dinâmica ocorre na casa dos protagonistas e vizinhos. Ora Martha (Marthe Keller) visita Jo (Max Riemelt) e os dois começam a conversar, ora Jo visita Martha. Para um filme escrito por quatro roteiristas, falta criatividade na dinâmica dos espaços e dos conflitos, que se limitam a novas desculpas para eles se cruzarem, seja na entrega de novos remédios ou novos temperos de cozinha. Esta parece uma cidade paradisíaca, mas deserta.

Para que a posição política de ambos fique clara, o roteiro trata de adotar posturas exageradas: Martha é alemã, mas não fala a própria língua por ser “a língua dos nazistas”, e se nega a pisar no país novamente. O aspirante a DJ Jo sequer pensa nisso, mais preocupado em seu próprio prazer e em conseguir tocar no famoso clube local, convenientemente chamado Amnésia. A trama repete com pouca sutileza que os jovens tendem a esquecer o passado, enquanto os sobreviventes dessa época se apegam a ela em demasia. Nenhuma postura seria saudável, de acordo com a trama, por isso o encontro entre ambos trata de amenizar os extremos para que cheguem, juntos, a uma versão moderada do luto histórico.

Amnésia constitui, portanto, um filme-terapia. Martha parece isolada na casa como forma de tratamento de suas dores psicológicas, enquanto o apático DJ dá a impressão de ter sido internado a força, ao lado de uma alemã que viveu a Segunda Guerra Mundial, para aprender a importância do tema. Schroeder não esconde o teor didático e teatral, excessivamente dependente dos diálogos para fazer a narrativa avançar. Enquanto a dupla conversa, os enquadramentos simplíssimos mostram um ou outro, no meio do plano, diante da paisagem espanhola ao fundo. Perde-se a oportunidade de desenvolver os protagonistas para além da questão nazista.

O resultado soa correto, cheio de boas intenções, mas dramaticamente inerte. Marthe Keller se sobressai em composição solar, enquanto Max Riemelt está distante, inacessível. A entrada de dois novos personagens para resolver o impasse (típico deus ex machina) aumenta a tensão da cena de modo acessório: cinco minutos depois de chegarem, já tocam na questão do passado alemão. Amnésia se conclui como uma fábula pueril demais para um tema tão complexo. Mas há de se felicitar a tentativa de abordar o tema com leveza, introduzindo, mesmo que de modo atrapalhado, a possibilidade de uma união (amorosa, inclusive) entre representantes do revanchismo e do esquecimento.