‘Só’ mais um
por Renato HermsdorffEm 2010, Meu Malvado Favorito apresentou ao mundo um protagonista vilão, como o título em português sugeria. Gru (voz de Steve Carell/ Leandro Hassum) era um notório malfeitor egocêntrico que pretendia desbancar outro bad guy e, para executar seu plano, usou três pequenas órfãs. Mas, como o nome também dava pistas (ele é o favorito) – e, claro, a julgar pelo formato do filme (é uma animação infantil!) –, seria ele de fato... malvado?
É aí que, três anos depois, surge Meu Malvado Favorito 2. Apoiado nas agruras de Gru como (bom) pai, o roteiro da sequência explorava o outro lado do ex-vilão – sem que ele perdesse a falta de ternura (ou o delicioso mau humor) –, conclamado a combater o crime, afundado em tarefas domésticas. Se o primeiro filme se prestou a apresentar esse carismático (e até complexo) personagem, o segundo tratou de dar conta da transformação desse anti-herói num herói de verdade.
Quatro anos depois, Gru está de volta. Sem, no entanto, um motivo nobre que justifique seu retorno. Por “nobre” entenda algum tipo de conflito que impulsione a evolução do personagem. Dessa vez, Gru descobre que tem um irmão gêmeo, Dru (dublado pelos mesmos Carell/ Hassum), numa clara tentativa esquemática de fazer andar a história do personagem.
Ninguém é (ou deveria ser) inocente, toda a estrutura da franquia, hollywoodiana na origem, é apoiada em um esquema “clássico” de construção de roteiro (nenhum problema até aí). Mas, se até aqui, as viradas faziam parte de uma estratégia convincente e até natural de contar o arco desse personagem/ dessa família, a técnica por trás da nova narrativa salta aos olhos, configurando um certo ar preguiçoso na construção do texto (escrito pela mesma dupla de sempre, formada por Cinco Paul e Ken Daurio).
Nessa linha, um vilão que se apresente como “vilão” (que literalmente diz, de cara, “eu sou o vilão!”) sem que se estabeleçam previamente conexões que mostrem que ele é o antagonista é o tipo de saída fácil a que o roteiro recorre, por exemplo. Por outro lado, o tirano da vez é o elemento com maior potencial para agradar aos pais em Meu Malvado Favorito 3.
Trey Parker (South Park)/ Evandro Mesquita dá voz a Balthazar Bratt, ex-astro mirim e estrela de TV dos anos 1980, que teve seu programa de TV cancelado ainda naquela época. Egocêntrico (mais um), é ele quem vai infernizar a vida da família Gru em busca do retorno aos holofotes. Ombreiras, brilhos, chicletes e, claro, muito rock/pop da década compõem o universo nostálgico que gira em torno do personagem. A isca do saudosismo é ainda mais apetitosa quando vista sob o prisma da criança-prodígio-problema (e quantos não são os exemplos da vida real?) Balthazar Bratt nasce de uma ideia para lá de criativa, mas age sem muito estofo.
Não, Despicable Me 3 (no original) não é o pior filme que você vai ver na sua vida (recadinho especial para os haters/ extremistas de plantão). Está longe disso. Mas, baseado em um roteiro relaxado que confia demais na popularidade dos personagens, é só mais um capítulo na vida de Gru e família. (E, sim, presentes em menor escala agora que têm sua própria linha do tempo, os minions roubam a cena mais uma vez).