Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
O Candidato Honesto

Chutando cachorro morto

por Renato Hermsdorff

A sinopse: João Ernesto Praxedes (Leandro Hassum) é um político corrupto, candidato à presidência da República. Ele está no segundo turno das eleições, à frente nas pesquisas, quando recebe uma mandinga da avó, fazendo com que ele não possa mais mentir. Agora começa o problema: como vencer uma eleição falando apenas a verdade?

O trailer: a avó diz “João, seja um homem honesto”, no que ele retruca “eu vou para Brasília, se eu for honesto lá, vou me sentir muito sozinho”. O assessor diz “João, estamos chegando ao Congresso”, no que ele responde “ih, quase nunca venho”. O pai de santo diz “eu estou acostumado com as criaturas das trevas”, no que ele pergunta “Ah, o demônio?”, e ouve como resposta “não, os senadores”.

O diagnóstico: se você achou graça, pode parar por aqui e correr para o cinema. Se não, vejamos: as piadas de O Candidato Honesto refletem um total descrédito da população com os políticos brasileiros. É jogar para a plateia, reforçando preconceitos. O caminho é fácil; o resultado, previsível. E abusa-se do humor físico, com trapalhadas, mamilo e peido. É um Zorra Total com palavrão.

Fora a trama previsível, a personagem de Luiza Valdetaro é inacreditavelmente absurda. A jovem atriz dá vida a Amanda, uma jornalista que trabalha em uma redação inverossímil (um misto de jornal impresso de cunho político com programa de TV de celebridade – até aí, vai um desconto, ninguém tem a obrigação de conhecer, nem razoavelmente, as diferentes estruturas de um veículo noticioso) que, inexplicavelmente (e aqui está o maior problema) acredita na boa intenção de João Ernesto.

O ponto positivo são as referências a personalidades conhecidas, salpicas ao longo do filme. É quase divertido imaginar quem poderia ser a aspirante a primeira dama de gengivas saltitantes. E qual estilista teria assinado o terninho colorido declaradamente cafona (João Ernesto não mente) que ela escolhe para usar em um programa de auditório? Há um deputado corrupto de cabelo engomado que evoca o nome de Deus na hora de negociar um apoio político (algum palpite?).

De engraçado mesmo, sobra a participação do pai de santo já mencionado, que “recebe” figurões inusitados – e até artistas – de outro plano, no momento do filme que tem maior potencial para surpreender a plateia (daí a graça).

No fim, o filme tenta justificar o(s) próprio(s) meio(s) usados, a partir da reabilitação moral do protagonista. O discurso político é raso, mas a mensagem, significativa. Resta saber se, depois de quase duas horas de reforço do senso comum de que todo político é corrupto, ainda é possível acreditar na honestidade de um candidato fora da sala de cinema.