Por trás dos palcos
por Barbara DemerovO título Stan & Ollie pode parecer simples mas, na verdade, contém um significado muito rico. Stan sempre foi Laurel e Ollie sempre foi Hardy no teatro e no cinema, formando, assim, uma das duplas mais icônicas da comédia de todos os tempos. Mas, como muito acontece quando a fama é alcançada, é comum que se esqueça quem são aquelas pessoas que criam personagens tão marcantes e que, de certa forma, são os responsáveis por formar suas próprias identidades. A arte que a parceria entre Laurel & Hardy deixou registrada em mais de 100 filmes de fato se sobressaiu diante de suas reais facetas, mas o objetivo do filme de Jon S. Baird é justamente colocar em cena aquilo que pouquíssimas pessoas tiveram a chance de conhecer: o lado "ser humano" fora do lado "personagem".
Diante de uma premissa tão simples quanto objetiva, Stan & Ollie ganha uma boa parcela de charme justamente por seus protagonistas. Na pele de Stan, Steve Coogan traz uma presença charmosa e ao mesmo tempo desengonçada, enquanto o Ollie do ótimo John C. Reilly mescla uma personalidade forte com fragilidade. Desde a primeira cena (um plano-sequência que fará os olhos de qualquer cinéfilo brilharem) até a última, existe uma dosagem balanceada de comédia, romance e drama que torna esta jornada de amizade muito agradável – além de ser fiel ao trabalho de ambos e apresentar uma ambientação rica em detalhes, desde o cuidadoso figurino aos objetos em cena.
Por se tratar de um filme que fala sobre a vida fora dos palcos e dos percalços encarados pelos comediantes, há de se esperar um clima um tanto soturno ou aflitivo demais; mas é justamente pelo foco na realidade que a história ganha camadas interessantes, adicionando a questão de que até mesmo os maiores comediantes precisam encarar momentos de dificuldade – e mais: até onde é possível chegar sem que o público possa notar algumas fragilidades que todos possuem? O maior papel da vida de Stan e Ollie, mais que "O Gordo e o Magro", é a capacidade de interpretar indivíduos inocentes que façam todos se esquecerem de seus obstáculos internos e externos, incluindo eles mesmos.
Como em toda e qualquer história sobre grandes homens que fizeram história, há grandes companheiras ao lado, que é o caso de Lucille (Shirley Henderson) e Ida (Nina Arianda), esposas de Oliver e Stan. Aliado às atuações sensíveis da dupla masculina, as mulheres também ganham bastante foco simplesmente por estarem presentes em toda a turnê de apresentações, esta incentivada por parceiros como uma possível porta para o retorno ao estrelato que alcançou seu máximo na década de 30. Suas presenças são o alicerce de cada artista (apesar da dupla também encontrar força entre si) e, também, resultam numa atmosfera familiar e próxima mesmo em meio a um trajeto repleto de lugares diferentes.
Se por um lado a narrativa não ouse muito e foque em apresentar mais as questões gerais que permearam o período próximo ao fim da carreira de Stan e Ollie, por outro há inúmeras particularidades que os atores conseguem aproveitar a fim de criar uma emocionante ideia de como foi a amizade daqueles homens. Alguns gestos, olhares e entonação nas vozes dão mais ênfase no carinho nutrido de forma recíproca do que as cenas em que eles recriam algumas de suas famosas esquetes. Mas não é como se as recriações tenham como resultado apenas imitações bem feitas: há muito de Reilly e Coogan impresso nas coreografias e pequenas tiradas cômicas, assim como há muita classe nos suaves movimentos de câmera, o que ajuda a transformar o filme em uma bela carta de amor aos dedicados comediantes.