Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Copa de Elite

A Copa do Mundo é nossa!

por Francisco Russo

Por mais que ainda não possua uma indústria cinematográfica de fato, é nítido que o cinema brasileiro tem produzido sucessos pontuais de público na última década. Alguns deles, como Tropa de Elite e Cidade de Deus, criaram personagem e frases que ficaram no inconsciente coletivo, prova inconteste do quão populares se tornaram. Diante disto, nada mais natural que, cedo ou tarde, o próprio cinema nacional se encarregasse de brincar com seus ícones. Assim nasceu Copa de Elite, uma paródia que surpreende ao ir além do que simplesmente repetir, com todo o escracho possível, cenas famosas da sétima arte tupiniquim.

O alvo principal, como o próprio título denuncia, é Tropa de Elite. Criado a partir do capitão Nascimento de Wagner Moura, o Jorge Capitão de Marcos Veras possui o jeito sisudo e a convicção de que precisa combater o crime no Rio de Janeiro, custe o que custar, o que rende algumas piadas cínicas sobre a conhecida truculência policial. Como a trama é situada às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, a ambientação varia entre o exagero na austeridade de Capitão e seus aspiras com o bom e velho patriotismo, que ressurge a cada quatro anos. A sequência que melhor define este contraste (e conluio) entre polícia e bandidos surge logo no início, com a rebelião comandada pelo personagem de Babu Santana.

A surpresa trazida por Copa de Elite é que, ao contrário de boa parte das paródias produzidas mundo afora, aqui o filme não se contenta em apenas satirizar filmes alheios. É claro que há citações de todo o tipo, de A Mulher Invisível a Meu Nome Não é Johnny, mas há um esforço no roteiro para que o filme possua uma história própria. É desta forma que surge o par principal do longa-metragem, Jorge Capitão e Bia Alpinistinha – uma mescla de Bruna Surfistinha com De Pernas pro Ar – e a subtrama envolvendo o sequestro do principal jogador argentino, culminando na própria Copa do Mundo. Por mais que o filme por vezes saia um pouco do rumo principal da história, especialmente quando parodia Se Eu Fosse Você, ainda assim há um eixo central a ser seguido.

Outro ponto positivo é a habilidade de Marcos Veras em criar tipos. Seu Jorge Capitão é quase sempre sério, daqueles que mal abre um sorriso, mas em determinados momentos Veras tem espaço para exercitar outras facetas, especialmente no trecho relacionado a Se Eu Fosse Você e quando Capitão se disfarça de traficante. Já Rafinha Bastos traz consigo um contraponto: ao mesmo tempo que sua persona pública ajuda a construir o vilão Renê Rodrigues, é dele também a maioria das piadas apelativas, algumas de constranger o espectador. Ainda neste sentido, o filme peca pelo exagero em sequências escatológicas e sexuais.

Por outro lado, há em Copa de Elite um punhado de piadas que têm o que dizer além da mera função de fazer rir. Por exemplo, quando Capitão diz “o único crime que haverá no Rio é a violência policial”, ao pregar o extermínio da criminalidade carioca, há também uma mensagem sobre o modus operandi da própria polícia. O mesmo acontece quando um dos aspiras pergunta “se pode usar bala de verdade”, ao ser informado de uma nova manifestação. O cinismo presente em certos momentos faz com que o filme como um todo cresça, assim como piadas bem encaixadas no roteiro, como as referentes ao ex-goleiro Bruno e o Kikito, troféu entregue no Festival de Gramado.

No fim das contas, Copa de Elite é um filme honesto em sua proposta que vai além do que se espera de uma paródia. É irregular, tem momentos apelativos, mas também situações em que é possível rir bastante. Destaque para as piadas autodepreciativas de Bruno de Luca e do grupo Molejo, não apenas pela situação em que são apresentadas mas também pelo bom humor (e a coragem) dos mesmos em encená-las.