Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Elsa & Fred

Por que?

por Francisco Russo

Produzir refilmagens não é exclusividade de Hollywood, mas por ter o mercado cinematográfico mais desenvolvido na atualidade é ela a maior responsável pelas tais novas versões que, entra ano sai ano, chegam ao mercado mundial. Às vezes de filmes antigos, outras simplesmente de sucessos rodados em outros países que não são falados em língua inglesa. Elsa & Fred, novo trabalho do diretor Michael Radford, se encaixa neste segundo caso. Ao compará-lo com a versão original, é possível entender perfeitamente como funciona este tipo de adaptação nos Estados Unidos.

A história deste novo Elsa & Fred, a bem da verdade, traz pouquíssimas diferenças em relação ao original, o espanhol Elsa & Fred - Um Amor de Paixão. A principal mudança fica a cargo do temperamento de Fred: se neste filme Christopher Plummer cria um personagem nitidamente rabugento e de mal com a vida, na versão espanhola cabe a Manuel Alexandre desenvolver um Alfredo mais melancólico, que sente de forma mais nítida o fato de, agora, estar só. Há novidades também nas subtramas, com a inserção de uma historieta envolvendo Picasso e coadjuvantes de pouco destaque, que no fundo não trazem mudança alguma à trama base - trata-se apenas de adaptações para o american way of life. Entretanto, por mais que poucas sejam as modificações na história, é impressionante como este Elsa & Fred é inferior ao original. Por um grande motivo: escolhas equivocadas na adaptação.

A primeira delas está logo na direção, mas até dá para entender o porquê da escolha por Radford: ele rodou o sucesso O Carteiro e o Poeta, logo, conhece o cinema italiano que o filme tanto glorifica, na figura de A Doce Vida. Segundo problema: ao tentar agilizar a história, talvez de olho também no público mais jovem, o filme perde muito da sensibilidade envolvendo a aproximação entre Elsa e Fred. Ainda mais nesta versão onde Fred é bastante mal humorado, o que amplia o desconforto diante da rapidez com que muda de postura em relação à sua nova vizinha. Terceiro: a trilha sonora insiste em provocar graça com músicas instrumentais animadinhas, típicas de comédia, destoando do tom da narrativa. Quarto: Shirley MacLaine (com ares de diva perto do final) e Christopher Plummer, que são também o motivo pelo qual vale a pena assistir esta refilmagem. Explico.

Tanto MacLaine quanto Plummer são ícones consagrados de Hollywood, que nada mais têm a provar. Desta forma, eles transportam a conhecida persona de ambos para a telona, criando versões de personagens que já interpretaram em diversos outros trabalhos. Por mais que ambos segurem o filme com sobras, há também um certo piloto automático em suas atuações. Não há emoção genuína, espontânea, apenas aquela calcada em anos de estrada e calculada milimetricamente pela direção. Como se tivessem comparecido aos sets de filmagens apenas para bater ponto - o que, ainda assim, oferece um bom trabalho devido à qualidade dos atores. Mas é menos do que a história poderia render.

Apesar de ser a chance de ver estes dois ícones do cinema mundial mais uma vez no posto de protagonistas, Elsa & Fred entra para a extensa lista das refilmagens norte-americanas que não dizem a que veio. Não chega a ser ruim e pode até agradar a quem não assistiu a versão espanhola, mas, no fim das contas, é apenas a velha Hollywood diluindo o que há de bom fora dela e apresentando uma maquiagem básica para chamar de seu. Regular, graças a MacLaine e Plummer.