Fé no molecão
por Roberto CunhaAntes do lançamento da cinebiografia Justin Bieber: Never Say Never, em 2011, muitos se perguntaram sobre a relevância da obra. O questionamento poderia ser puro preconceito ou simples dúvida se havia "conteúdo" naquele fenômeno instantâneo, que tinha assolado o mundo adolescente. Para eles, existia e a produção (leia a crítica) faturou US$ 99 milhões. Passados três anos, eis Justin Bieber's Believe com imagens de shows, falando de amadurecimento e abrindo até uma pequena brecha para as polêmicas.
"Me sinto adulto", diz o já não tão pequeno grande astro, sobre um buço, hospedado acima dos lábios desejados por milhões de moçoilas. A frase revela o anseio de um jovem, pressionado para acertar sempre e obrigado a crescer rapidamente pelo convívio constante com adultos ao seu "lucrativo" redor. Outras frases "explicativas", pipocam ao longo do filme, fazendo o espectador mergulhar facilmente no universo de Bieber, artista, adolescente, pessoa... Tudo junto e misturado. O pano de fundo é a turnê do disco Believe, mas roteiro e edição não se prendem a ordem cronológica (tatuagens somem e aparecem), encadeando situações para seduzir o espectador comum e, em especial, os fãs. A histeria deles, por sinal, está no DNA do artista nascido no YouTube e agora habitante das grandes arenas. E essa relação com eles é realçada a toda hora em imagens e depoimentos, muitos deles, emocionantes e alguns, talvez, um tanto quanto apelativos.
Após mostrar uma abertura a-lu-ci-nan-te do show, uma breve volta no tempo mostra o ídolo canhoto, usando lápis e borracha para compor uma canção, além de muita coisa que antecedeu a montagem do megaevento, como os testes para os dançarinos, a tensão e o tesão de fazer parte de toda a parafernalha, dirigida por Jon M. Chu, que ainda pilotou este e o filme anterior. As confusões que começaram a brotar na carreira aparecem, são justificadas por ele e questionadas por seus produtores, que já viram outros casos parecidos de sucesso precoce sucumbirem, como Lindsay Lohan ou Britney Spears. "Tenho uma cabeça boa", diz ele. Pode ser. Mas os episódios ocorridos no Brasil (posteriores ao filme) deixaram dúvidas se a cuca está mesmo no lugar, como torcem aqueles que o admiram, ou se o que se vê nesta produção são apenas panos quentes. Só o tempo dirá.
Diferente do primeiro, que era dublado quase simultâneamente, agora existem legendas em todas as falas, mas não nas músicas, um erro que poderia ter sido evitado, uma vez que as letras positivas das músicas aumentariam ainda mais a sinergia entre público e imagens. Entre as curiosidades, uma bandeira do Brasil aparece rapidamente e, para os amantes do rap e do pop, participações especiais de Nicki Minaj, Ludacris, Will.I.Am e Usher, os dois últimos, parceiros do cantor. Reunindo 10 canções (a clássica "Baby" vem nos créditos finais como faixa (e cenas) bônus), Justin Bieber's Believe não foi bem em sua estreia (dezembro) nos Estados Unidos e agora se aventura nas bilheterias internacionais. Montado para mexer com a emoção de fãs e não fãs, suas boas sequências funcionam como respostas para tudo que é dito por Bieber e sua trupe. Agora, trocadilhos à parte, acreditar ou não só depende de você. E deixando o preconceito de lado, sinceramente, até que é possível levar fé no molecão de (horrorosas) calças caídas. ;)