Divino na forma, pecador no conteúdo.
por Renato HermsdorffO longa alemão 14 Estações de Maria é composto de apenas 14 planos, em sua maioria estáticos. A cada um deles corresponde um momento da vida da ficcional Maria (Lea van Acken), em paralelo com a Via Crúcis percorrida por Jesus (o Filho do Homem, na verdade, passou por 15 etapas, sendo a última delas a ressurreição).
Em uma palavra: ousado. E o filme é de uma beleza estética quase divina, o que fica claro sobretudo na iluminação dos quadros. Porém, se Kreuzweg, no original (que significa Via Crúcis), inova (e o uso dessa palavra não é exagero) na forma, peca no conteúdo.
A personagem-título é uma menina de 14 anos que, nascida em uma família religiosa e conservadora (leia fundamentalista), não vê problemas nos sacrifícios impostos por uma ala mais tradicional da Igreja Católica que frequenta. Maria resolve se dedicar a uma vida de privações na esperança de que, como paga, seu irmãozinho de quatro anos se “cure” da incapacidade de falar.
É um bom personagem – e bem interpretado pela jovem atriz –, na medida em que ela não é simplesmente uma menina carola: passa por “provações” comuns à sua idade. Um tom acima (ou abaixo, em direção ao inferno) é usado na composição do personagem da mãe (a atriz Franziska Weisz, assustadora), mulher linha dura, cujo comportamento caminha no limite do inverossímil.
Determinação? Fanatismo? É mérito do diretor não julgar as opções da menina. Dietrich Brüggemann (Corra se Puder) acompanha as opções de Maria em direção ao calvário sem fazer juízo de valor a respeito das atitudes da garota – o que, convenhamos, não é trabalho fácil.
Porém, em quase duas horas de projeção, o filme segue previsível (sobretudo para quem identifica as “estações” descritas na bíblia), arrastado e, com o perdão do trocadilho, sem alma.