Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Isolados

Versão brasileira

por Francisco Russo

Brasileiro gosta de suspense e terror. Esta máxima tem acompanhado distribuidoras e profissionais do meio cinematográfico já há alguns anos, sustentada pelo bom desempenho de vários filmes do tipo nas salas nacionais, mesmo aqueles que não se saíram bem em sua terra natal (leia-se, Estados Unidos).  Diante desta predileção pelo susto, sempre ficou a pergunta: por que não investir no gênero? Por mais que a sétima arte brazuca tenha representantes do medo, especialmente Zé do Caixão, pouquíssimos foram aqueles que conseguiram atingir o grande público. É esta a proposta de Isolados, novo trabalho do diretor Tomas Portella (Qualquer Gato Vira-Lata), que conta com Bruno Gagliasso e Regiane Alves como protagonistas.

Para atingir as massas, Portella decidiu replicar por aqui o que faz sucesso no modelo hollywoodiano de suspense. Para tanto, fez um estudo sobre os elementos mais utilizados em filmes do gênero: ambiente sombrio, sustos provocados por efeitos sonoros, bonecas estranhas, água jorrando que fica vermelha, assassinos misteriosos, uma doença pouco conhecida, uma boa dose de paranoia e um desfecho com “segredo”, no melhor estilo O Sexto Sentido. Juntou tudo, colocou uma (breve) pitada de brasilidade e voilá, nasceu Isolados. Se ficou bom? Não.

Não ficou bom justamente porque os tais elementos típicos do gênero foram largados dentro da história, alguns apenas para serem identificados pelo público que está habituado a este tipo de filme, sem que faça muito sentido na trama como um todo. É bem verdade que o filme conta com uma boa fotografia, calcada bastante nas sombras, e uma direção de arte competente, onde a casa repleta de buracos com vidros coloridos é o grande destaque. Mas também apresenta um perigo iminente claramente inspirado nos Outros da finada série de TV Lost, com sons e ruídos anunciando a presença sem que a ameaça em si de fato surja. E pior: mal explicado, já que são tantas as idas e vindas na linearidade da história que tudo se torna confuso.

Além disto, há em Isolados uma insistência desnecessária em provocar tensão através de truques sonoros ao invés do desenvolvimento da própria história, que acompanha o desespero crescente de um jovem casal preso em uma casa de campo, sem ninguém por perto para ajudá-lo. O aspecto psicológico, bem defendido tanto por Bruno Gagliasso quanto por Regiane Alves, acaba ficando em segundo plano diante da necessidade de criar um medo constante vindo de sabe-se lá onde, de forma a realçar o desconhecido como o mal maior. Ok, há filmes em que este tipo de busca até funciona. Mas, no caso de Isolados, o foco da trama está todo no casal, ou seja, o que vem de fora acaba sendo mera distração para o que realmente interessa: o relacionamento entre os personagens principais.

Há também em Isolados algumas situações primárias, que viram piada involuntária. O exemplo maior é a participação do BOPE – sim, o BOPE – em plena floresta, cuja fama como símbolo da polícia carioca é explorada sem que haja o menor cuidado com a coerência. Tanto que os policiais interpretados por Silvio Guindane e Orã Figueiredo nada mais fazem a não ser repetir frases óbvias, sem qualquer tentativa de aprofundamento de seus personagens. São personagens rasos e o roteiro faz questão de deixá-los assim, por ser mais conveniente à variedade de clichês presente.

Bastante didático e com uma clara opção em fabricar sustos gratuitos em detrimento de trabalhar melhor sua história, Isolados é uma boa iniciativa mal executada. O cinema brasileiro precisa diversificar seus gêneros, para não depender unicamente das comédias e dos dramas para atrair público, mas precisa também aprimorar suas experiências em territórios não tão conhecidos como o suspense/terror. Vale como tentativa, pelo trabalho correto dos atores principais e alguns aspectos técnicos da ambientação.

Filme assistido durante a cobertura do 42º Festival de Gramado, em agosto de 2014.