Trumbo é Bryan Cranston
por Renato HermsdorffTrumbo é daquelas cinebiografias tradicionais que se debruçam sobre um longo período de vida do personagem principal. Reparando uma retaliação a um dos artistas mais competentes da indústria do cinema americano, o filme diz muito do umbigo da própria Hollywood – e de um período específico da história (é informativo) –, se valendo de uma ótima performance de Bryan Cranston. Mas, como peça fílmica, é convencional até demais.
Era irresistível não contar essa história – e surpreende que o cinema norte-americano tenha tardado tanto e, portanto, se esquecido dela. Dalton Trumbo foi um dos mais criativos – e atuantes, tanto em termos políticos, quanto pela facilidade com a escrita – roteiristas que Hollywood já viu. Porém, a partir dos anos 1940, devido à sua inclinação ao comunismo, foi presa fácil para caça às bruxas que se instalou no período pós-guerra, alvo, inclusive, da própria classe artística.
São de autoria dele, por exemplo, os textos de A Princesa e o Plebeu (1953), Arenas Sangrentas (1956) – ambos vencedores do Oscar de melhor roteiro – e até do clássico Spartacus (1960). Perseguido – chegou a ser preso –, muitas das histórias foram assinadas com pseudônimos – e só tardiamente a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas viria a reconhecer sua autoria.
As histórias de bastidores – somadas à atuação de Cranston, de longe em seu melhor papel no cinema – são o que eu filme traz de melhor. O longa de Jay Roach (até então, diretor de comédias, como Austin Powers e Entrando Numa Fria), além de posicionar o espectador com precisão histórica (pelo menos, é o que parece) por trás das câmeras no set das produções, traz artistas conhecidos – e outros nem tanto – delegando em causa própria.
De um lado, por exemplo, temos a atriz e colunista social Hedda Hopper (Helen Mirren deliciosamente má) e John Wayne (David James Elliott) com a tocha republicana na mão, fortemente empenhados em acabar com a ameaça comunista no meio; do outro, o cineasta Otto Preminger (Christian Berkel) e o ator Kirk Douglas (Dean O'Gorman, ótimo) contribuindo para ajudar o nosso herói. (E uma menção deve ser feita a John Goodman, hilário no papel do produtor de filmes “b”, Frank King).
Por outro lado, esse é exatamente o maior problema do drama biográfico. Além de convencional demais no formato, esquemático e linear, é articulado dentro de um universo preto no branco, em que mocinhos e vilões não têm lá muita sutileza na composição dos personagens. Mas vale pelo peso histórico. E pela performance daquele que uma vez foi conhecido como Walter White.
Filme visto no 40º Festival Internacional de Cinema de Toronto, em setembro de 2015.