Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Amor, Plástico e Barulho

Malvada do brega

por Lucas Salgado

A história da estrela que é objeto de admiração e inveja por parte de uma novata em busca da fama já foi contada diversas vezes no cinema, sendo a mais famosa delas em A Malvada, com Bette DavisAnne Baxter. Mas a história nunca foi contada como em Amor, Plástico e Barulho. A premissa é a mesma, mas a diretora e roteirista Renata Pinheiro mergulha em um universo desconhecido pelo grande público e não abre mão de debater questões sociais, como é o casa da especulação imobiliária, tema muito presente no cinema pernambucano nos últimos anos.

Destaque de O Som ao Redor, Maeve Jinkings volta a entregar uma grande atuação como Jaqueline, estrela do tecnobrega e líder da banda Amor com Veneno. Ela abre as portas de sua casa e da banda para a jovem Shelly (Nash Laila), que aos poucos vai se revelando muito ambiciosa e disposta a tudo para atingir a fama.

É curioso notar que a rivalidade das personagens em cena acaba gerando uma espécie de duelo de interpretações. Jinkings e Laila têm atuações formidáveis na produção, sendo difícil dizer quem está melhor. Obviamente, a tendência do público é se solidarizar com a personagem que está sendo alvo de traição, como é o caso de Jaque, mas é inegável que Shelly também desperta um sentimento forte no espectador.

Abraçando o universo brega, Pinheiro cria um filme que por si só também é um pouco brega. E aqui, isso não é nenhum defeito. Amor, Plástico e Barulho é muito colorido, sexy, musical e, é claro, barulhento. A trilha sonora de DJ Dolores (que já havia feito bonito em Tatuagem) é formidável. Independente de gostar ou não do tecnobrega, você vai sair do filme envolvido com a trilha.

Rodrigo GarciaSamuel Vieira e Leo Pyrata completam o elenco da produção, mas o foco é quase que permanente nas duas protagonistas. Pinheiro e o coroteirista Sérgio Oliveira contam ainda com um terceiro protagonista: o Recife. A capital pernambucana é muito mais do que apenas uma locação. Estamos diante de um cenário repleto de belezas e desigualdades, em que o desejo de jovens pela fama é equivalente à selvageria da especulação imobiliária. O filme, através de uma envolvente montagem de Eva Randolph, investe em vídeos do You Tube (todos de péssima qualidade) para retratar alguns imóveis gigantescos que estão nascendo na cidade, com destaque para um shopping center.

Com apenas 90 minutos de duração, o longa não perde tempo se alongando e trata de dizer tudo aquilo que pretende. Trata-se de uma obra envolvente, intrigante e extremamente divertida. Pode-se debater se o filme está rindo com suas personagens ou de suas personagens, mas não parece ser o objetivo da diretora fazer piada do universo brega. Como é algo alienígena para a maioria das pessoas, é inevitável que muitos tratem algumas cenas como comédia, mas é importante destacar que a produção trata suas protagonistas com muito carinho.

Ao final, o que resta é o quão descartável é a fama ou mesmo os sentimentos de amizade e companheirismo.