Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Truque De Mestre: O 2º Ato

Te peguei!

por Francisco Russo

O primeiro Truque de Mestre trazia uma proposta interessante, mesclando o mundo da mágica ao conceito de "Robin Hood moderno" empregado nos quatro cavaleiros, autênticos entertainers que fazem a alegria do público com suas aparições (uma situação que, por si só, trazia ainda a interessante questão do porquê da popularidade destes heróis tortos). Paralelamente, o filme traz a perseguição de um dedicado agente do FBI, com direito a uma revelação no melhor estilo M. Night Shyamalan, mudando tudo o que se imaginava até então (é o truque de ilusionismo do roteiro, por assim dizer). Por mais que seja um filme divertido, o longa funciona muito devido à sua proposta bem amarrada. Até permitia a realização de uma sequência, mas necessidade mesmo não havia, visto que as perguntas trabalhadas eram praticamente todas respondidas no original (havia apenas a questão em torno da misteriosa organização Eye).

Só que, como é praxe em Hollywood, tudo que faz sucesso precisa de uma continuação. E assim nasceu Truque de Mestre: O Segundo Ato, uma sequência que busca a todo custo reprisar conceitos e situações vistas no filme original, de forma a supostamente satisfazer o paladar de quem curtiu o primeiro. É quase uma reprise, sem o frescor da originalidade nem objetivos bem definidos. O resultado é um filme repetitivo e de roteiro bastante frágil, que busca se sustentar através de uma série de tentativas em surpreender o espectador - a maioria delas, enfadonha e gratuita.

Bastante dependente do filme original, Truque de Mestre 2 dá prosseguimento à saga dos cavaleiros e de seu líder oculto, interpretado por Mark Ruffalo. Por mais que seja recomendável ver o original para melhor compreender o que acontece aqui, o longa oferece logo de início uma breve retrospectiva dos principais momentos. Agora sem Isla Ficher, cuja ausência é justificada com uma meia dúzia de palavras, o grupo de mágicos precisa enfrentar um novo inimigo que, além de expô-los, possui fortes relações com o passado deles. É o suficiente para que o roteiro repita, insistentemente, situações onde um grupo tenta mostrar que é mais esperto que o outro, sacando sempre um ás oculto da manga. Mais ainda: até mesmo entre os próprios mágicos há uma necessidade infantil em ser o maioral, de forma que constantemente preguem peças uns nos outros em busca do aplauso e reconhecimento, nem que seja apenas dentro do próprio grupo. É o ego inflado agindo sorrateiramente, também para corroer a unidade existente entre eles.

Diante deste duelo bobo entre machos alfa, personificado especialmente nos personagens de Mark Ruffalo e Jesse Eisenberg, o diretor Jon M. Chu aposta em burocráticas trucagens de edição e fotografia para criar mágicas supostamente interessantes, que não funcionam a contento justamente por não aparentarem um mínimo de veracidade. Há tantos efeitos envolvidos, sejam visuais ou sonoros, que eles impedem a imersão do espectador em um ambiente realmente mágico - o melhor exemplo é o número de Jesse Eisenberg na chuva, totalmente fake. Isto, para um filme que tem como mote principal a própria mágica - ou até mesmo o ilusionismo, revelando alguns segredos -, é um problema sério.

Apesar dos problemas, Truque de Mestre 2 oferece algumas novidades interessantes. Por mais que sua ambientação com os demais cavaleiros soe um tanto quanto rápida demais, Lizzy Caplan entrega uma personagem divertida como o elemento feminino dos cavaleiros. Woody Harrelson escancara de vez seu lado gaiato ao interpretar o irmão gêmeo de Merritt, caprichando nos trejeitos exagerados. E há ainda Daniel Radcliffe. Por mais que o eterno Harry Potter seja subaproveitado, é interessante a piada implícita decorrente de sua escalação, como um empresário que não acredita em mágicas. O filme ainda entrega algumas (poucas) boas cenas em que os cavaleiros precisam trabalhar juntos, demonstrando a desenvoltura vista no filme original.

Por mais que até traga uma certa continuidade dos personagens principais, Truque de Mestre 2 é prisioneiro das referências e do formato vistos no primeiro filme. Até mesmo o clima de perseguição se repete, agora transportado para outro contexto, também menos interessante. No fim das contas, esta continuação simplesmente se apropria da mágica para fazer truquezinhos bobos no sentido de ressaltar o quanto o personagem em questão é esperto, tentando pegar também o espectador de surpresa. Até funciona de início, mas a repetição ad eternum de tal iniciativa logo se torna bastante cansativa e burocrática.