Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Um Fim de Semana em Paris

Em busca do encanto perdido

por Francisco Russo

Ah, Paris. Cidade luz, repleta de encantos que vão da beleza da arquitetura local às mais diversas obras de arte, espalhadas por vastos e requintados museus. Terra da Torre Eiffel, do Arco do Triunfo, de Montmartre, do rio Sena e de tantos outros pontos turísticos que encantam moradores e visitantes, ano após ano. Tamanho impacto já foi vastamente explorado pela sétima arte, que muitas vezes alçou a cidade a um local dos sonhos. Um Fim de Semana em Paris até conta com isto em sua proposta, mas na verdade a intenção do filme é outra. Trata-se de um difícil olhar sobre um relacionamento bastante desgastado.

A história acompanha a viagem de Nick e Meg rumo a Paris. Moradores da monótona Birmingham, eles têm a esperança de reviver a chama de uma viagem ocorrida décadas atrás, mas tudo dá errado. O início do filme explora bastante este contraponto, entremeando belas cenas dos arredores da cidade com algumas desavenças entre o casal. Ainda leves, como se fossem amortizadas pelo cenário, por mais que a fotografia intencionalmente seja nublada. Com o tempo, as provocações debochadas ganham tons cada vez mais sérios.

A bem da verdade, tal início é uma mera ilusão sobre o que está por vir. Nick e Meg formam um casal frustrado, pelo rumo de suas vidas no âmbito profissional e pessoal, e não pensam duas vezes antes de descontar um no outro. Ela especialmente, iniciando um jogo cínico de dominação que, em alguns momentos, lembra o relacionamento doentio do casal principal de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?. Não se pode dizer que há ódio entre eles, como acontece na peça escrita por Edward Albee, mas há sim uma vontade de machucar que, em vários momentos, assume requintes de crueldade. Por outro lado, tamanha acidez faz parte deste relacionamento tão particular que, de alguma forma, encontra um convívio em meio aos atritos e ofensas.

Para dar vida a este casal, o diretor Roger Michell (do doce Um Lugar Chamado Notting Hill, de espírito bem diferente deste filme) acerta em cheio na escolha por Jim Broadbent e Lindsay Duncan. Ele especialmente, que através do olhar consegue transmitir tanto a paixão ainda existente pela esposa quanto a desilusão da situação em que vive. Ela, por sua vez, é a personagem empedernida, raivosa por não ter conquistado o que gostaria. A dupla protagoniza momentos tensos, repletos de diálogos duros e destrutivos, mas também com uma química impressionante – nos bons e nos maus momentos.

Um Fim de Semana em Paris é um filme bem distante do ideal de leveza que muitas vezes se apregoa a tramas situadas na capital francesa, o que pode surpreender (e desagradar) o espectador incauto que pouco sabe sobre o filme e decide assisti-lo meramente pelo que o título e o cartaz erroneamente insinuam. Trata-se de um filme duro sobre o desgaste no relacionamento, na mesma toada do impactante Antes do Pôr-do-Sol, episódio final da trilogia dirigida por Richard Linklater e estrelada por Ethan Hawke e Julie Delpy. Se o filme peca pela entrada abrupta do personagem de Jeff Goldblum, cuja função é apenas conduzir o casal ao ápice das desavenças, por outro lado chama a atenção pela coesão entre brigas e afeições de forma que as reações até soem exageradas em alguns instantes, mas jamais inverossímeis. Há em Nick e Meg um fundo de verdade, como casal, que incomoda por saber que relações deste tipo não se resumem apenas à sétima arte.