Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
O Preço da Fama

À procura de Carlitos

por Francisco Russo

Charles Chaplin entrou para a história ao criar um adorável vagabundo, que enfrentava com graciosidade as dificuldades da vida. Mais do que simplesmente fazer rir, o eterno Carlitos encanta pelo carinho e a humanidade que carrega consigo, mesmo que isto por vezes o coloque em enrascadas com a polícia. O Preço da Fama, novo trabalho do diretor Xavier Beauvois, vai um pouco nesta linha. Não em relação aos filmes dirigidos e estrelados por Chaplin, todos bem mais divertidos e emocionantes, mas na abordagem de dois Carlitos da vida real que cruzaram seu caminho.

A trama de O Preço da Fama, por mais incrível que possa parecer, é verídica. Pouco após o falecimento de Chaplin na Suíça, em pleno Natal de 1977, o corpo do ator foi roubado do cemitério local por dois amigos, um que havia deixado a prisão há pouco tempo e outro que enfrentava sérios problemas financeiros devido à doença da mulher. Trata-se do típico caso em que a ocasião faz o ladrão, sem qualquer requinte de crueldade ou investida no lado cômico. No fim das contas, este acaba sendo o grande problema do filme.

Por mais que haja um nítido carinho do diretor por seus personagens principais, explícito através da trilha sonora suave utilizada em momentos de acusação contra a dupla e também nos relacionamentos periféricos de ambos, fato é que a história apresentada é banal até demais. O lado pitoresco do roubo do cadáver de uma celebridade é pouco aproveitado e o filme também não desenvolve bem o fato deles serem criminosos de meia tigela, sem experiência no assunto. Por outro lado, o tom dramático também não é aprofundado, nem mesmo ao ressaltar as questões sociais existentes, permanecendo em uma certa superficialidade cômoda e até preguiçosa.

O roteiro apenas consegue trazer algo mais relevante na reta final, quando surge uma referência mais forte ao universo criado por Chaplin. É impossível não lembrar de Carlitos ao ver a esquete dos palhaços simulando uma briga em câmera lenta, sem qualquer fala.

Simples e direto, buscando uma ambientação naturalista e seguindo a divisão tradicional de três atos, O Preço da Fama é um filme interessante mais pela curiosidade em torno do caso retratado do que propriamente pelo que apresenta. Se Benoît Poelvoorde e Roschdy Zem não chegam a brilhar, ao menos transmitem a veracidade necessária aos seus personagens. Detalhe para a curiosa cena pós-créditos, que mostra o roubo - também verídico - da estátua de Chaplin. Mas este é assunto para outro filme...

Filme visto no 71º Festival de Veneza, em setembro de 2014.