Magos, guerreiros e vilões
por Bruno CarmeloInicialmente, é bom ressaltar que são raríssimos os filmes peruanos nos cinemas brasileiros, por esta razão é bom destacar a presença da coprodução peruana-argentina Rodência e o Dente da Princesa no circuito nacional. Mesmo assim, o espectador dificilmente conseguirá identificar qualquer traço sul-americano nesta animação cujo interesse maior parece ser o de competir com grandes produções estrangeiras - inclusive as americanas. Na intenção de ser universal, esta história parece não se passar em lugar algum.
Na verdade, ela ocorre no reino fictício de Rodência, onde vivem ratos aspirantes a mágicos, princesas presas pelos pais, nobres guerreiros que desejam se casar com ela, magos sábios, vilões escondidos em cavernas. O imaginário medieval é bastante semelhante ao de diversos livros juvenis de aventura, e algumas passagens da trama parecem diretamente extraídas de Valente, Kung Fu Panda, A Espada Era a Lei ou mesmo Monstros S.A. (na relação dos ratinhos com os humanos, dentro de seus quartos). Ao mesmo tempo, o filme tem o mérito de trazer uma trama imediatamente reconhecível, e por esta mesma razão, sem muita criatividade.
A qualidade da animação é respeitável para um filme que não dispõe de um orçamento hollywoodiano, embora a produção tivesse se saído melhor se tivesse buscado soluções criativas para as limitações da produção, ao invés de supor que o público-alvo (no caso, crianças bem pequenas) não se importaria com essas questões. Na ambição de fazer um filme épico, em 3D, esta animação cria personagens lisos, parecendo mais computadorizados do que reais. Os cenários dispõem de poucos detalhes (algo que a terceira dimensão só ajuda a reforçar), e mesmo os objetos segurados pelos personagens parecem não ter peso, consistência. O mundo de Rodência é claramente virtual, mais próximo da textura de um videogame.
O filme obtém mais sucesso na imaginação do inferno e das forças do mal, quando o diretor David Bisbano se afasta da tentativa de realismo. Este universo maligno é repleto de criaturas assustadoras, incluindo o vilão de olhos vermelhos mergulhados das trevas, com a sombra gigantesca dançando na parede de uma caverna. Estes momentos são impressionantes, embora possam ser fortes demais para os espectadores mais jovens. O humor discreto, vindo principalmente da figura de um mago atrapalhado, também funciona moderadamente, cumprindo a cota obrigatória de comicidade em produções infantis.
De resto, Rodência e o Dente da Princesa desempenha o papel de "filme com mensagem", dizendo aos pequenos para acreditarem neles mesmos, porque poderão ser quem quiserem, e insistindo que o amor sempre vence, que os pais buscam o melhor para seus filhos e que a coragem é uma das grandes virtudes do ser humano. Nada muito inovador, e entregue sem sutileza ou nuance - mas não faria muito sentido apontar a falta de inventividade em um filme que não tem a menor pretensão de ser inovador. Muito pelo contrário, ele quer mostrar que é capaz de fazer exatamente como todos os outros. Nesse sentido, atinge seu objetivo.