Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Um Instante de Amor

Ossessione

por Taiani Mendes

Nicole Garcia, atriz com mais de 50 anos de carreira, vencedora do César de coadjuvante em 1980, estreou no papel de diretora em 1986. Desde então comandou sete longas, sendo o oitavo este Um Instante De Amor. Sua obra mais notável é O Adversário e homens adultos envolvidos em dilemas familiares são seus protagonistas mais comuns. Em Um Instante de Amor ela aparentemente sai de seu lugar comum, conduzindo uma trama que gira em torno de Gabrielle, interpretada por Marion Cotillard. O problema é que, apesar de ser a personagem principal, estar em praticamente todas as cenas e ser a própria vítima do “mal da pedra” referenciado no título original (Mal de Pierres), Gabrielle não é compreendida pela diretora – e consequentemente pelo público.

Na primeira cena ela serve aos homens e sua apresentação propriamente dita a introduz como uma jovem ensandecida pelo desejo, uma inconsequente bomba sexual a uma faísca da explosão. Quando o inevitável acontece, fere quem está por perto e deixa sequelas físicas e emocionais nela mesma. Sua mãe entende que o casamento pode ser a solução e oferece a mão da filha ao pedreiro José (Alex Brendemühl). Ele, no entanto, não desperta nela grande estima e, apesar de aceitar o matrimônio praticamente imposto, Gabrielle decreta: não haverá sexo. Ela perde aí o desespero que a caracterizava. Para onde foi? Por que foi embora?

Ela não é doida, a mãe faz questão de frisar. É apenas doente da cabeça, vive nas nuvens. A questão sexual feminina então é ligada diretamente a problemas psicológicos e torna-se óbvio que estamos diante do ultrapassado mito da mulher histérica. Baseado no romance de Milena Agus, o roteiro de Garcia, Jacques Fieschi e Natalie Carter cai nesse terrível buraco por ter medo de se jogar na complexidade de Gabrielle. A acompanhamos como um vizinho fofoqueiro que sabe tudo da vida alheia sem jamais ter falado com a pessoa observada, sequer ter tido em qualquer momento a preocupação e a vontade de compreendê-la profundamente. Recebemos os fatos, testemunhamos seus atos (até por seu ponto de vista), mas isso jamais se traduz em intimidade e entendimento. Gabrielle se apaixona por fantasias e, uma vez apaixonada, torna-se uma caricatura obsessiva e descontrolada. Seu desespero (“me dê a coisa mais importante ou deixe-me morrer”) por amor e prazer deveria ser comovente, no entanto o longa a trata mal, quase como uma vilã, apenas por desejar sentir.

Excelente atriz que é, Cotillard faz o que pode tentando ir além do clichê, enquanto Louis Garrel, no padrão entediado e com tempo reduzido de tela, rende menos do que a composição contida de Brendemühl. Não espere muito do triângulo amoroso e não tenha pressa, pois a história se arrasta mais do que o necessário.

Um Instante de Amor é um filme de amor, mas não o de Gabrielle. José, o silencioso, é quem desponta como o grande amante, o herói que mente, se anula, aceita humilhações e faz de tudo pelo sentimento intenso que nutre pela esposa. Ela, a “cruel”, não demonstra carinho pelo filho, reclama do marido, perde importantes compromissos... Tudo por causa dos caprichos do coração. Sorte que existe um cara equilibrado ao seu lado, não é mesmo? Um que ama tanto a flor que entende que o correto não é colhê-la e matá-la... 

#gratidão (contém ironia)

Visto no Festival Varilux de Cinema Francês 2017