Sem personalidade
por Francisco RussoExistem vários tipos de sequências. A melhor delas é a que busca não apenas explorar os pontos fortes do original, como ainda avançar na cronologia da série, trazendo fatos novos que realmente surpreendam. Há a burocrática, que se contenta em repetir a fórmula para garantir a satisfação do fã do original. E há a picareta, aquela que escancaradamente se aproveita de elementos já estabelecidos para criar algo cujo único objetivo seja ganhar dinheiro fácil. Carga Explosiva - O Legado se encaixa neste último item.
Sem Jason Statham no elenco, o quarto filme da série Carga Explosiva – que também já virou série de TV, sem sucesso – busca dar prosseguimento à carreira do motorista e porradeiro Frank Martin nas telonas. Para tanto, replica suas características básicas: o terno sempre impecável, o possante carro preto repleto de surpresas a la 007, a obsessão em não saber a carga que está por carregar (e a certeza de que isto lhe trará problemas mais a frente) e um punhado de cenas de ação onde o personagem principal lida com o que aparece à sua volta (e inevitavelmente insere o objeto na própria luta). Neste novo filme, há a inserção do elemento família na trama: o pai de Frank, também misterioso, é sequestrado pela nova empregadora do filhote. Tudo para garantir que ele cumpra o que ela quer – e é claro que ele cumpre, e ainda se envolve com ela.
Como se pode perceber, a obviedade é um problema constante em O Legado. Até mesmo em relação ao novo protagonista. Por mais que agora caiba a Ed Skrein o posto principal, sua interpretação é copiada nos mínimos detalhes ao que Statham fez anteriormente. Até mesmo o tom de voz, sussurrante, é idêntico – o que torna algumas cenas caseiras, ao lado do pai, bem estranhas. Por mais que o trabalho de plágio até seja razoavelmente bem feito, falta a Skrein o carisma de Statham. E, sem isto, há pouco (bem pouco) no filme que consiga segurar o espectador.
Em parte por outro motivo: para o diretor Camille Delamarre, boa cena de ação é aquela que tenha alguma capotagem espetacular. Não importa se o motivo seja exagerado, sempre que pode lá está ele colocando algum carro pelos ares. Veterano da série – ele foi editor de Carga Explosiva 3 e diretor de segunda unidade da série de TV -, se contenta em fazer o beabá. A obsessão pelo estilo faz com que as sequências de ação até sejam bem coreografadas, mas ao mesmo tempo absolutamente falsas e pouco convincentes. No fundo, o objetivo aqui não é trazer algum frescor à franquia, mas sim explorar uma marca já conhecida para faturar mais alguns trocados. O básico, ou o mais barato, já está ótimo – para quem faz, não para quem vê.
Os diálogos metódicos e burocráticos mais as belas paisagens da Riviera Francesa completam o cenário deste Carga Explosiva – O Legado, um filme bem abaixo de todos os antecessores. Não apenas pela ausência de Statham, mas especialmente pela falta de cenas de ação realmente criativas e empolgantes. A que consegue chegar mais perto deste objetivo, flertando com o absurdo típico do cinema de ação, é a sequência dos hidrantes. E só.