Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Velozes & Furiosos 8

Questões de família

por Francisco Russo

É interessante como a franquia Velozes & Furiosos se transformou ao longo dos anos até enfim encontrar a fórmula do sucesso. Se no estereotipado quinto filme, situado no Rio de Janeiro, a série acertou no tom grandioso nas cenas de ação aliado ao carisma de The Rock, foi no episódio seguinte que se alcançou o tom jocoso de não se levar nem um pouco a sério, trazendo uma bem-vinda leveza aos já tradicionais exageros nas desventuras de Dom Toretto & amigos - não por acaso, Velozes & Furiosos 6 é por muitos considerado o melhor da franquia. Após um sétimo filme de forte apelo emocional e estruturalmente problemático, devido ao quebra-cabeça decorrente do falecimento de Paul Walker, chega a ser natural que a série retorne à proposta do sexto filme. É como se, agora, tudo voltasse aos eixos.

Diante disto, chama a atenção como Velozes & Furiosos 6 e Velozes & Furiosos 8 são estruturalmente parecidos. Ambos iniciam com a imagem de um carro possante em um cenário paradisíaco, ambos trazem seus protagonistas vivendo uma lua de mel - neste caso, literalmente -, ambos apresentam um novo vilão "mais perigoso que os anteriores", ambos são situados em diversas cidades, ambos investem bastante nas piadas em torno do porte físico de The Rock e nas tiradas espirituosas de Roman (Tyrese Gibson), ambos buscam explicar (ou reorganizar) a cronologia da série, ambos investem forte no conceito de família. É neste último item, por sinal, que está o gancho desta nova aventura: Dominic Toretto (Vin Diesel), líder da gangue, se volta contra os amigos devido a uma misteriosa chantagem feita por Cipher, a vilã da vez, interpretada por Charlize Theron. Ou seja, desta vez é a própria "família Velozes" que está em atrito.

Se este conflito interno soa um tanto quanto estereotipado - vale lembrar que Transformers: O Último Cavaleiro também investe nesta ideia, colocando Optimus Prime versus Bumblebee -, chama a atenção a habilidade do diretor F. Gary Gray em trazer algum frescor a uma franquia que já conta com oito filmes, ao mesmo tempo em que presta reverência ao que foi feito. Se a proposta das cenas grandiosas (e absurdas) de ação é mantida, especialmente no confronto com o submarino, há também espaço para o tradicional pega entre dois carros turbinados, ícone da série desde o longa original - além de render uma sequência divertida, ainda soa como nostalgia auto-referente. Só que Gray vai além ao trazer algo inédito na série em seu trecho novaiorquino, com uma bem sacada novidade tirada da cartola pelo roteirista Chris Morgan associada ao uso de carros de verdade, deixando (um pouco) de lado os efeitos especiais. Tal decisão traz ao filme uma bem-vinda veracidade em momentos exagerados, como na sequência em que dezenas de carros despencam de um prédio.

No mais, trata-se do estilo já conhecido da franquia ao mesclar diversão com o absurdo, tanto pelo que acontece quanto em termos narrativos. Talvez a melhor síntese do que é Velozes & Furiosos seja o personagem de Kurt Russell, o Sr. Ninguém: sempre com um sorriso no rosto, como se estivesse saboreando cada reviravolta daquela reunião meio sem sentido, com uma frase de efeito/provocação na ponta da língua. Assim também é o filme, que diverte justamente pelo nonsense de certos momentos. Portanto, esqueça coerência e curta as provocações trocadas entre The Rock e Jason Statham, a piada auto-referente em relação ao uso de um tanque, a breve (e boa) participação de Helen Mirren, as provocações juvenis ao personagem de Scott Eastwood e as coreografias das várias cenas de luta e envolvendo carros. Este é o objetivo da franquia, cumprido com sucesso.

No mais, vale destacar a edição competente da dupla Paul Rubell e Christian Wagner e também a boa escalação de Charlize Theron como vilã. Por mais que ela não tenha uma grande atuação, Charlize é uma das poucas atrizes da Hollywood atual que conseguiria, em cena, peitar de forma convincente brutamontes do porte de Vin Diesel e Jason Statham - muito, em parte, pelo seu histórico em filmes do tipo, como Mad Max: Estrada da Fúria. Statham, por sinal, ainda retorna aos bons tempos de Carga Explosiva nas cenas de luta, sempre com uma dose de comédia envolvida. Este acaba sendo o maior mérito do diretor F. Gary Gray: a capacidade de trazer cenas de ação impactantes e bem desenvolvidas com um toque bem-humorado, assumindo o tom mentiroso sem tornar tudo uma imensa piada. Bem conduzido e fiel ao espírito gaiato da franquia, Velozes & Furiosos 8 é um dos melhores exemplares da série.