Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Five Dances

A vida e a dança

por Bruno Carmelo

Five Dances se passa quase integralmente dentro de uma academia de dança. Os únicos cinco personagens em tela são dançarinos, que chegam cedo e saem do local tarde da noite. Neste grande salão arejado de Nova York, eles fazem suas refeições, brigam, conhecem novos amigos, fazem sexo, se apaixonam e ensaiam. A escolha pela unidade de espaço pode derivar de restrições orçamentárias, mas também resulta em uma escolha metonímica: o diretor Alan Brown resume o mundo inteiro nesta única locação, tentando falar sobre amores gays e heterossexuais, sobre amizade, relações familiares conflituosas, perda da inocência, rivalidade etc.

Pelo tema, este poderia ser um filme de dança comum, ou seja, uma história sobre pequenos dançarinos crescendo através de treinos árduos e conquistando, contra todas as expectativas, algum grande prêmio no final. Mas Five Dances foge desse mecanismo. Menciona-se rapidamente uma apresentação futura, mas nenhuma pressão externa (prazo, financiamento, problemas físicos) influencia a prática dos dançarinos, que parecem dançar por puro prazer. O protagonista, Chip (Ryan Steele) chega a mencionar por telefone que “conseguiu um trabalho”, mas sua relação com a dança é mais afetiva do que contratual – nunca se fala em dinheiro ou em quaisquer regras, por exemplo. A vida dos cinco personagens é resumida, ou melhor, representada, pela dança. Fora das coreografias, eles não existem.

Por isso, os problemas externos que assolam o personagem principal nunca mudam a sua trajetória: a mãe efetua uma forte chantagem emocional por telefone, o pai despertou nele uma grande tristeza, mas o garoto não cede à pressão familiar. Chip prossegue com seus planos, não por ser um rapaz obstinado, e sim por incapacidade de tomar decisões por conta própria. Este rapaz de 17 anos é apresentado como alguém de imensa infantilidade (e, portanto, pureza), sendo necessário que os outros o forcem – às vezes literalmente – a conhecer o amor, o sexo, a amizade. Enquanto Katie (Catherine Miller) não o convida para dormir em sua casa, esse rapaz estoico se satisfaz em dormir no chão duro da academia. Enquanto Théo (Reed Luplau) não fica inteiramente nu em sua frente, Chip não pensa em sexo.

Diante desta grande simplicidade, tanto da produção (um único espaço, tempo limitado) quanto da narrativa (poucos personagens em trajetória cronológica), é louvável que Alan Brown desenvolva com tanta calma a história de amor – o real objetivo do filme. Existem apenas dois personagens gays, e embora a aproximação entre eles seja óbvia e esperada, o roteiro leva metade da duração para mostrar os primeiros flertes. Ao invés de explorar a premissa amorosa imediatamente (como fariam 90% dos romances), Five Dances prefere desenvolver com calma a personalidade do seu personagem.

Enquanto isso, existem diversas cenas de dança, como indica o título. Os atores sabem de fato dançar, e o diretor saboreia as coreografias do seu grupo. É uma pena, no entanto, que abuse de recursos fáceis, como trilha sonora indie comovente, câmeras lentas e muitos cortes (a edição dança mais do que o talentoso elenco). Esses momentos preciosistas contrastam com outros mais belos e naturalistas, quando os amigos fazem piadas entre si, conversam nos cantos da academia ou brincam com luzes de Natal.

Five Dances tem uma conclusão abrupta: quando o amor é correspondido, todos os outros problemas desaparecem na vida de Chip e a história simplesmente termina. O filme, assim como o imaturo Chip, acredita no poder redentor do amor – é só se apaixonar que a vida se torna melhor. Mesmo assim, com alguns acidentes de percurso, este drama constrói bons momentos de naturalismo, com atuações contidas, coadjuvantes bem construídos e mesmo uma bela cena de sexo – nem tão explícita quanto nos filmes que pretendem chocar, nem tão pudica quanto nos romances adolescentes. Mais do que ingênuo, Five Dances é uma obra idealista, com todas as qualidades e defeitos que isso pode implicar.