Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes

Uma divertida experiência de Dungeons & Dragons

por Bruno Botelho

Dungeons & Dragons é o mais famoso jogo de RPG, onde os participantes interpretam personagens e criam narrativas colaborativas. Ao longo dos anos, tivemos inúmeras adaptações de jogos para o audiovisual e D&D não passou despercebido por Hollywood, com destaque para Caverna do Dragão (1983 a 1985), série de animação querida pelo público brasileiro, e também Dungeons & Dragons - A Aventura Começa Agora (2000) – decepcionante primeira tentativa de levar esse universo para os cinemas, mas que sendo um fracasso de crítica e público e, mesmo assim, rendeu duas continuações pouco conhecidas.

Levando tudo isso em conta, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes (2023) chega com a missão nada simples de conseguir fazer jus ao legado de D&D. E acerta em cheio ao apostar na simplicidade de sua própria narrativa que capta a essência do que fez esse universo ser tão amado pelas pessoas.

Qual é a história de Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes?

Em Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes, o bardo Edgin (Chris Pine), embarca em uma missão para resgatar uma relíquia mágica, capaz de ressuscitar sua esposa e recuperar a confiança de sua filha Kira (Chloe Coleman). Ele se une a um improvável bando de aventureiros, composto pela bárbara Holga (Michelle Rodriguez), a druidesa Doric (Sophia Lillis), o paladino Xenk (Regé-Jean Page) e o mago Simon (Justice Smith), e juntos eles se arriscam entre os lugares mais perigosos e misteriosos desse universo de fantasia, dispostos a combater o mal e a derrotar as mais terríveis criaturas que surgem em seus caminhos. Mas as coisas podem sair perigosamente erradas quando eles precisam enfrentar o exército de Forge (Hugh Grant) e a feiticeira Sofina (Daisy Head).

Novo Dungeons & Dragons traz a essência de uma aventura de RPG

Com um rico e expansivo universo de fantasia, Dungeons & Dragons permite uma ampla gama de possibilidades de exploração para os jogadores. Levando isso em conta, os diretores John Francis DaleyJonathan Goldstein se aproveitam dessas características para pegar elementos clássicos de RPG e contar sua própria história com o público, o que no final das contas é o principal objetivo do material original.

Obviamente, não estamos falando de uma produção com a mesma escala e investimento – ainda que conte com um orçamento nada modesto de 151 milhões de dólares – de obras imensas como O Senhor dos Anéis ou Game of Thrones. Por isso mesmo, o novo filme não explora amplamente esse universo de D&D, mas foca em montar seu próprio grupo de personagens com atributos clássicos de RPG e criaturas fantásticas escolhidas a dedo, que estão todos inseridos nesse contexto por uma aventura de fantasia descompromissada que mistura (e equilibra) diferentes estilos de ação e comédia.

Honra Entre Rebeldes funciona perfeitamente tanto para os fãs de Dungeons & Dragons, onde eles vão encontrar diversas referências espalhadas em 2 horas e 14 minutos de duração, quanto para quem nunca teve contato com o jogo original, introduzindo o público a esse expansivo universo de fantasia. O roteiro escrito por Jonathan Goldstein, John Francis Daley e Michael Gilio tem como principal objetivo recriar livremente a experiência de participar de uma mesa de RPG. E alcança esse propósito pelo fato de contar uma história à sua própria maneira em uma narrativa caótica e lúdica, conversando diretamente com a imaginação e cooperação que os jogadores enfrentam durante uma campanha cooperativa.

Como consequência, o público mergulha de cabeça na aventura com elementos e dinâmicas típicas de RPG que são integradas ao enredo de maneira natural. Em termos de ação, os diretores conduzem as cenas criativamente com as ameaças que são apresentadas, especialmente os dragões e outros seres da mitologia, em diferentes cenários e com um senso de perigo que acompanha nossos queridos personagens a todo instante – sempre deixar de lado o clima descontraído de comédia. O mais interessante é que muitas dessas criaturas são criadas com efeitos práticos e combinadas com CGI, passando maior realismo.

Honra Entre Rebeldes conquista o público com seus personagens cativantes

John Francis Daley e Jonathan Goldstein têm experiência em produções de comédia, dirigindo Férias Frustradas (2015) e A Noite do Jogo (2018), além de roteirizar Quero Matar Meu Chefe (2011) e até mesmo Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017). Por isso mesmo, o tom de comédia da produção flui naturalmente, voltada principalmente para a dinâmica e relação descontraída entre seus personagens principais na trama.

Eles são definitivamente o maior acerto em Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes, pois todos são cativantes e desenvolvidos com uma certa complexidade. Nenhum deles servem como arquétipos clássicos de heróis, mas na verdade como um grupo de desajustados (que remete aos Guardiões da Galáxia) que precisam lidar com problemas e traumas de seu passado durante essa jornada de aventura, o que automaticamente cria uma identificação real com o público na história de fantasia. Chris Pine no papel do protagonista Edgin e Hugh Grant como Forge são dois dos maiores destaques, o primeiro como o coração da trama na tentativa de reconquistar a filha, e o segundo como um personagem ganancioso e sem escrúpulos. Mas, de qualquer forma, todos os membros da equipe têm seu momento para brilhar e mostrar suas habilidades de diferentes classes de D&D, assim como suas fragilidades em busca de redenção.

Caverna do Dragão é bastante marcante para o público brasileiro mesmo durando apenas 27 episódios. E, para a felicidade dos fãs, o novo Dungeons & Dragons tem uma homenagem para a série animada, com uma versão live-action daqueles personagens aparecendo na cena dos Jogos Meridionais. Com elementos clássicos de RPG explorados com criatividade e de maneira natural na produção, existe a possibilidade de que mais (e diferentes) histórias possam ser contadas daqui para frente. 

No final das contas, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes mistura ação e comédia em uma aventura de fantasia simples e descontraída que captura a experiência de participar de uma mesa de RPG, pegando elementos clássicos de uma campanha e criando sua própria história com personagens cativantes. Então, os fãs podem ficar aliviados com uma adaptação que finalmente faz jus a D&D, com inúmeras referências, e quem nunca teve contato com o material original, terá uma divertida introdução.