Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Fora do Rumo

Sem rumo e sem graça

por Rodrigo Torres

Fora do Rumo é como todo filme da fase americana de Jackie Chan: uma básica história de ação e comédia como veículo para cenas de luta de coreografia bem-humorada do astro chinês. Até a colagem de seus erros de gravação nos créditos finais está lá, com as principais características da sequência — boba, forçada, sem graça — resumindo a fragilidade do longa-metragem em sua totalidade.

Jackie Chan interpreta Bennie, um detetive de Hong Kong cujo parceiro, Yung (Eric Tsang), é aprisionado numa bomba-relógio e comete suicídio para salvá-lo. Após este prólogo, o filme salta nove anos e vemos que a lembrança do amigo segue muito viva para Bennie Chan, seja cuidando de sua filha, Samatha (Bingbing Fan), seja em sua busca incansável por incriminar Vitor Wong (Winston Chao), um político de boa imagem que ninguém imagina ter envolvimento com a máfia.

Portanto, Jackie Chan interpreta o mesmo personagem de toda a carreira: um homem íntegro, bonachão, ingênuo, que trata as mulheres com máxima gentileza sem jamais ansear algo em troca. Trocando em miúdos, é o filme para a família que o ator chinês sempre fez, com muitas lutas e nenhum sangue, trama maniqueísta e mensagens edificantes — o que também resulta na falta de qualquer elemento mais instigante.

O que resta para que Fora do Rumo seja uma experiência envolvente, então, é a realização de cenas de ação e comédia de boa qualidade. Pois o que se nota são coreografias menos inventivas, mais curtas e que os 62 anos de idade já estão pesando para o protagonista. Em termos de produção, o diretor Renny Harlin e equipe (principalmente de efeitos visuais e montagem) fazem de Skiptrace (no original) uma experiência simplória. Bem aquém, por exemplo, de um filme estrelado por Jackie Chan há 20 anos: Primeiro Impacto.

O pior em Fora do Rumo, no entanto, são as suas decepcionantes investidas no humor. Quando Bennie Chan precisa recorrer à ajuda de um apostador norte-americano para desmascarar Wong, ele embarca num road movie com Connor Watts (Johnny Knoxville) — que soa como uma tentativa atrapalhada de reprisar a, sim, bem-sucedida dupla cômica que Jackie Chan formou com Chris Tucker na trilogia A Hora do Rush. O ator de Jackass e Vovô Sem Vergonha não parece o comediante certo para esse tipo de dinâmica, e o resultado é frustrante.

Como num típico filme de estrada, a intenção é, também, retratar suas trocas de experiência, sua jornada de autoconhecimento e redenção de seus defeitos, mas a tamanha falta de química entre os atores resulta em superficialidade, melodrama barato e nenhum timing para as tiradas cômicas; já nada inspiradas. Nesse quesito, aliás, Fora do Rumo erra feio ao tentar ser cool e autorreferencial, como nos momentos em que Watts debocha das falas e piadas ruins do roteiro. Assim, quando o personagem pergunta se Bennie é a Wikipedia, por agir como um guia de turismo durante a viagem pelo interior da China, ele só acentua o caráter de propaganda institucional da terrível sequência — bem como as outras conveniências do script e a baixa qualidade do longa-metragem, falho como um todo.