Críticas AdoroCinema
5,0
Obra-prima
A Imagem que Falta

História revisitada

por Lucas Salgado

Filmes como A Imagem que Falta mostram toda a força que o cinema pode ter. Mais do que contar uma história, a sétima arte serve também para resgatar e armazenar uma história. A tomada do Camboja pelo Khmer Vermelho resultou num genocídio que vitimou aproximadamente dois milhões de pessoas. São poucos os registros e, diante disso, o documentarista Rithy Panh, que tinha 13 anos quando Pol Pot tomou o poder, utilizou de uma forma bastante inusitada para contar o que seu país viveu.

O longa é contado através de dioramas, onde bonecos de argila representam os acontecimentos. A mensagem já está clara no próprio título, é um filme sobre a imagem que falta, sobre aquilo que a história mundial meio que apagou, mas que ainda está presente na mente de quem viveu tudo aquilo.

É uma produção que defende a preservação da memória, trazendo momentos em que isso é mais do que sugerido, como quando mostra centenas de rolos de filmes se perdendo sem a menor conservação. São poucos os registros sobre a passagem do Khmer Vermelho pelo Camboja, mas são muitos os traumas deixados sobre a população.

O próprio diretor define o filme como a "imagem de uma busca permitida pelo cinema". Panh busca reencontra-se com o passado e honrar aqueles que ficaram para trás. O longa rompe com as barreiras do documentário convencional, surgindo como algo completamente fora dos padrões. Neste sentido, prende a atenção do espectador de uma forma muito mais significativa do que um mero registro de imagens e depoimentos.

Os bonecos de argila são belos e detalhados, assim como extremamente frágeis. Trata-se de uma obra quase que sensorial, onde o público vai sentir a dor e o sofrimento vivido por tal povo. A força do longa também está em unir os dioramas com propagandas reais do regime, traçando um panorama significativo do que aconteceu e de como funcionava a máquina de Pol Pot.

Como registro histórico, A Imagem que Falta é uma obra singular. Ao utilizar objetos de argila, o longa ganhar ares mais leves do que a história real. Mas no final acaba sendo ainda mais perturbador.