Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Tim Maia

Produto do bom

por Renato Hermsdorff

Tim Maia é um filme divertido pra caralho. Desculpe, mas se o palavrão ofende (não é a intenção), então talvez esse não seja o tipo de filme indicado para você. Desbocado é o menor dos defeitos do cantor, que foi também egocêntrico, individualista, oportunista, drogado, machista, até. Mas também podia ser carinhoso, dedicado, companheiro, amável. Em suma, Tim – ou a imagem folclórica que se tem dele mais de 15 anos depois da sua morte – era polêmico. E essa essência o filme de Mauro Lima (Meu Nome Não é Johnny) e equipe capta muito bem.

Alguns teóricos de roteiro acreditam que os dez minutos iniciais de um filme são cruciais para captar a atenção do espectador. Não é uma duração cravada, mas uma média de tempo que vai sentenciar se te interessa ou não continuar a assistir. Nos créditos de abertura, Tim Maia, o filme, une o bem sucedido Tim Maia (Babu Santana) cantando no palco e o adolescente Tim Maia (Robson Nunes) na escola extravasando toda a sua fúria em câmera lenta (pensou Zumbilândia?) Tudo isso embalado pela música de Tim Maia, o cantor. Você quer continuar.

A história – baseada (e não só) no livro "Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia", do jornalista e produtor musical Nelson Motta – é narrada por Fábio (Cauã Reymond), que não existiu. Ele é resultado da soma de alguns amigos que passaram pela vida do artista – assim como as mulheres, notadamente Janete, com quem ele esteve até a ida para Londres, e Geisa, a mãe de seus dois filhos, que foram condensadas na Janaína de Alinne Moraes. Se o recurso (a narração) pode soar, em princípio, batido e preguiçoso, não é o que acontece na adaptação. Bem construído, o personagem contribui dramaturgicamente para o andamento do filme. Além de conhecer bem o amigo Tim, Fábio é irônico como o síndico.

Os diálogos, aliás, apoiados em grande parte no deboche, são um dos pontos altos. As falas são espertas, mas não espertas demais.

A despeito da técnica impecável que lembra as caprichadas produções de Hollywood (a fotografia, de tom amarelado que ganha cores à medida em que a música explode; a recriação de épocas pela cenografia e figurino; a seleção da MÚSICAS, que não incluem só os sucessos), o filme é longo demais. Não só na duração (2h20min), mas na sensação. A opção por um período de tempo que vai do Leme ao Pontal, ou seja, do nascimento, em 1942, até a morte em 1998, já era, por si só, arriscada. É bem verdade que o encontro com a música negra/ gospel nos Estados Unidos poderia ter sido mais explorado. Mas a longa busca pelo antigo parceiro Roberto Carlos (George Sauma, caricato na medida) em São Paulo é gordura que se poderia ter cortada.

Nada que prejudique a experiência final de assistir a um filme ousado (e emocionante), que não foge da raia, no caso de Tim: religião (o envolvimento com à doutrina Cultura Racional), sexo, drogas e rock e soul. Está tudo lá. Um filme robusto, a altura do biografado. Babu Santana e Robson Nunes, caso você esteja se perguntando, bom, eles são Tim Maia, um único Tim Maia.

No mais, trata-se de um filme americano. E não há nenhum demérito nesta frase. Pelo contrário. Afinal, quantos tentaram? Mauro Lima conseguiu.