Críticas AdoroCinema
1,0
Muito ruim
Doidas e Santas

Sem bons ingredientes

por Francisco Russo

Logo na sequência inicial de Doidas e Santas, a personagem de Maria Paula é entrevistada em um programa de televisão e confrontada com a pergunta crucial: o que é necessário para ser feliz? "Ter bons ingredientes", ela responde. O mesmo poderia ser dito ao trazer tal questionamento para o universo da comédia, onde o texto é tão importante quanto a capacidade do elenco em fazer rir e, mais ainda, o timing nas situações cômicas é essencial. Infelizmente, Doidas e Santas não possui qualquer um destes bons ingredientes.

Baseado no livro homônimo escrito por Martha Medeiros, que por sua vez ganhou versão teatral de sucesso estrelada por Cissa Guimarães, Doidas e Santas chega aos cinemas em versão canhestra, tamanho é o descompasso entre intenção e realização. Apostando firme nos estereótipos entre homens e mulheres - elas são doidas, leia-se, imprevisíveis, eles adoram futebol -, o texto apresenta uma sucessão de problemas do cotidiano a partir da representação da mulher moderna, que precisa se equilibrar entre os lados profissional e pessoal. É esta a posição da Beatriz de Maria Paula, uma terapeuta com ares de escritora de auto-ajuda que escreve livros sobre como ser feliz, sendo que ela própria não é.

Tamanho contraste é apresentado a partir de todo tipo de conflito clichê: o maridão (Marcelo Faria) não lhe dá atenção e prefere jogar futebol com os amigos, a filha adolescente (Luana Maia) busca a liberdade longe das asas da mãe, a irmã riponga (Georgiana Góes) abandona as amarras da vida para encampar toda e qualquer causa ambientalista, a mãe (Nicette Bruno) quer mais é viver em liberdade, curtindo os anos que lhe restam. No centro está Beatriz, sisuda, elitizada e, em alguns momentos, preconceituosa. Infeliz por natureza, precisa aprender a se soltar para encontrar a felicidade e, neste esforço, segue todos os caminhos apontados por quem estiver à sua volta - o que, naturalmente, rende situações supostamente cômicas.

Supostamente porque, por mais que seja um veterano com mais de 40 anos de profissão, o diretor Paulo Thiago não está habituado com o essencial timing cômico e, com isso, constrói inúmeras sequências extremamente artificiais e sem ritmo - o do "acidente" com o vinho, envolvendo Maria Paula e Thiago Fragoso, é um caso cristalino. Diante desta dificuldade, toda e qualquer condução emocional é dependente da trilha sonora, que ocupa uma imensa lacuna que deveria ser preenchida pela dinâmica da história a partir do elenco. O modo mecanizado como tais cenas foram rodadas, exagerando no beabá narrativo e com atores claramente desconfortáveis - Marcelo Faria, principalmente -, faz com que tudo não apenas se torne pouco convincente como, também, extremamente cansativo, por mais que o filme dure apenas 1h30.

Diante de tais problemas, o elenco é muito prejudicado. Em parte devido às limitações de alguns dos escalados, mas que ainda assim poderiam desempenhar um papel melhor se fossem melhor conduzidos, ou até mesmo auxiliados pela dinâmica geral - a única que soa autêntica é Samantha Schmütz, em participação mínima. Extremamente mal dirigido, Doidas e Santas é um filme que faz rir pelo motivo errado: certas situações são tão artificiais que provocam um riso involuntário de tão mal feitas.