Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Paulo Moura - Alma Brasileira

Uma descoberta

por Lucas Salgado

Cartola, Noel Rosa, Wilson Simonal, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Raul Seixas, Tom Zé, Caetano Veloso e Tom Jobim são apenas alguns de inúmeros músicos brasileiros que já ganharam documentários sobre sua vida e obra. Paulo Moura - Alma Brasileira é mais um filme sobre um importante artista, mas possui uma importante diferença: Paulo Moura é um representante da música instrumental brasileira.

Com raras exceções, os doc musicais brasileiros seguem a fórmula "depoimentos de críticos e outros artistas + apresentações musicais". O longa sobre Paulo Moura foca principalmente nas apresentações, mas a natureza de sua arte, sem letra, faz da obra uma experiência mais contemplativa.

O documentário não perde tempo tentando explicar o artista. Deixa que seu trabalho fale por ele, algo que também acontece no extraordinário A Música Segundo Tom Jobim. O filme não chega a ser tão radical quanto o de Nelson Pereira dos Santos, que não conta com um depoimento sequer. Aqui, temos entrevistas com o próprio Moura e com pessoas próximas, como a esposa do artista.

Dirigido por Eduardo Escorel, Alma Brasileira começa com uma narração em off do cineasta falando sobre a ideia dele para um filme sobre Moura foi modificada diante da internação e morte do músico. A fala é tão artificial que tira o público do longa logo de cara, ficando para o personagem-título a responsabilidade de reconquistar o espectador logo de cara.

Infelizmente, Escorel se mostrou satisfeito com a técnica utilizada e tratou de voltar a aparecer com sua voz no final da produção, em que usa seu tempo para chamar de mesquinhas as pessoas que não cederam imagens para o documentário, incluindo aqueles que não autorizaram a exibição da última apresentação de Moura, registrada no hospital em que estava internado, aonde iria morrer dois dias depois.

Apesar desses probleminhas aqui acolá, o filme consegue cativar o espectador através do talento e da diversidade musical de Paulo Moura. Quem não o conhecia vai ficar satisfeito de descobrir um novo e importante nome da nossa música. E quem conhecia vai gostar de ver uma produção cinematográfica investindo em um nome deixado de lado pela grande mídia.

Dono de um talento único, Paulo Moura também se revela detentor de uma personalidade cativante. Isso fica claro no momento em que reflete sobre o caminho percorrido pela música nacional após o golpe militar de 1964. O artista destaca que a letra passou a ter mais importância do que a melodia.