Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Julio Sumiu

Bota a culpa no Julio!

por Francisco Russo

Poderia ter dado certo, já que a ideia base de Julio Sumiu é interessante. Pegar uma típica família de classe média, que vive entre o glamour da zona sul carioca e a realidade por vezes violenta de uma favela surgida praticamente na porta de casa, é algo que acontece com muitos que vivem no Rio de Janeiro – e, curiosamente, foi tema também de Vendo ou Alugo, dirigido por Betse de Paula. Junta-se a isso o contraste entre a juventude emaconhada e pais da velha guarda, obrigados a se adaptar a uma situação até então impensável envolvendo o tráfico de drogas, e o resultado poderia ser uma comédia interessante sobre a dualidade carioca entre o morro e o asfalto. Entretanto, não é isso que acontece.

A história parte de uma premissa muito simples: Julio, filho mais velho de um casal aposentado, simplesmente desaparece. Muito nervosa, a mãe (Lília Cabral) faz o que pode para encontrá-lo: liga para amigos, vai à polícia, encarrega o caçula de procurá-lo e até mesmo apela para a reza com as amigas. Só que Sílvio (Fiuk, inexpressivo), o irmão mais novo, pouco se importa com o paradeiro de Julio e está mais interessado em fumar um baseado com seu amigo Zeca (Hugo Grativol). O problema é que ele deve uma grana para o traficante local, que faz ameaças via recado na secretária eletrônica. A mãe ouve o alerta e logo o associa ao filho desaparecido. Confusão feita, ela parte morro acima para encontrar o chefão do tráfico local: Tião Demônio (Leandro Firmino da Hora, mais uma vez preso à imagem de Zé Pequeno em Cidade de Deus).

Há em Julio Sumiu uma impressionante sucessão de equívocos, nos mais variados aspectos. O roteiro é repleto de rombos e “coincidências” mal explicadas, de forma a “facilitar” o rápido desenrolar da trama, mesmo que isto custe abrir mão da própria lógica da história. Os personagens são extremamente mal construídos, se valendo de estereótipos que os tornam bastante superficiais – isso sem falar que o pai (Dudu Sandroni) simplesmente desaparece sem motivo em vários trechos. Para completar, há ainda nítidas falhas técnicas, como a luz estourando na câmera em diversas cenas.

Diante de personagens tão mal desenvolvidos, é até difícil condenar o trabalho do elenco – a culpa, no fim das contas, é mais do roteiro e da direção do que deles. Ainda assim, é importante ressaltar a precariedade da Madalena de Carolina Dieckmann, que se resume ao apelo sensual de uma típica piriguete – que nem ao menos consegue fazer rir. A trama rocambolesca em que está inserida, por mais que ressalte os negócios escusos entre a polícia e o tráfico, acaba se perdendo – também – entre os problemas escancarados no roteiro.

O que consegue manter alguma atenção no filme é Lilia Cabral, muito por seu carisma natural, que resulta em boas sequências quando ela precisa assumir os negócios na boca de fumo implantada em sua própria casa. O contraste entre a típica dona de casa afetuosa e o que se espera de um traficante indica o caminho que o filme poderia ter seguido, retratado no primeiro parágrafo. Entretanto, a sucessão de piadas tolas envolvendo a masculinidade do delegado-adjunto J. Rui (Augusto Madeira) e a caricatura exagerada de Tião Demônio prejudicam bastante a personagem.

No fim das contas, o melhor resumo de Julio Sumiu acaba sendo oferecido pelo próprio filme. Na cena pós-créditos é possível ver o quarteto principal sentado em um sofá, no melhor estilo Os Simpsons, conversando diretamente com o público. Trata-se de um momento inacreditável, onde os diálogos trocados espantam pela condescendência com que o próprio filme é tratado – e que podem até ser interpretados como uma espécie de pedido de desculpas pelo que acabou de ser exibido.