Críticas AdoroCinema
4,5
Ótimo
Rogue One: Uma História Star Wars

Heróis de guerra

por Francisco Russo

A ideia de Rogue One - Uma História Star Wars nasceu a partir de um detalhe presente no clássico Guerra nas Estrelas: logo no letreiros iniciais, era dito que os planos da Estrela da Morte tinham sido roubados pela Rogue One, possibilitando que a Aliança Rebelde tivesse uma nova esperança. Quem eram eles, nenhum dos filmes lançados respondeu... até agora.

Situado pouco antes dos eventos mostrados no episódio quatro, Rogue One é um legítimo exemplar da saga Star Wars. Há nele a típica fauna variada de seres, robôs com personalidade própria que oferecem uma certa dose de humor e a dualidade do bem contra o mal incentivada por questões idealistas, que os fãs da franquia criada por George Lucas tão bem conhecem. Mas é também um avanço, sob certos aspectos, pelas características da própria história. Mais próximo a um filme de guerra, Rogue One nada mais é do que a saga de um grupo que precisa cumprir uma missão suicida, sem poder contar com os icônicos sabres de luz nem com jedis usando a Força ao seu favor. O que não significa que ambos, de alguma forma, não estejam presentes na narrativa.

É justamente no modo como tais elementos são aproveitados, sem serem explicitados, que está um dos trunfos do diretor Gareth Edwards. Mesclando com habilidade efeitos especiais, construtos animatrônicos e maquiagem de forma a proporcionar um mundo crível e realista, Rogue One traz um clima mais pesado inerente à ameaça cada vez maior representada pelo Império, às vésperas de inaugurar sua mais poderosa arma, a Estrela da Morte. Só que, mais do que apenas se apropriar de ícones revisitados, o roteiro se presta a esmiuçá-los de forma a trazer novos contextos.

É o que acontece com a própria Estrela da Morte, que além de ganhar uma ligação inusitada ainda é palco de uma disputa pelo poder dentro do Império. É a chance de conhecermos o ardiloso (e ótimo) Ben Mendelsohn na pele do diretor Krennic ou ainda a trama central representada por Galen e Jyn Erso (Mads Mikkelsen e Felicity Jones), que mais uma vez remete ao tema da paternidade, tão presente no decorrer de toda a saga Star Wars. Ao aprofundar tais questões, o filme ganha corpo e dramaticidade, algo essencial para diferenciar Rogue One de qualquer outro filme da série, por não se basear tanto em sequências de ação - que, é claro, surgem em boa quantidade.

Neste caminho, Rogue One conta também com um punhado de personagens extremamente carismáticos e marcantes, do debochado robô K-2SO (com ecos de C-3PO) ao Chirrut Imwe de Donnie Yen, representante da crença religiosa em torno da Força. Por mais que em certos momentos soe exagerado, o Saw Gerrera de Forest Whitaker também traz novas nuances ao apresentar um rebelde extremista, uma faceta até então pouco explorada.

Já sobre Jyn Erso, se por um lado é louvável o esforço que a Lucasfilm tem feito no sentido de dar o protagonismo dos novos filmes às mulheres (vide Rey em O Despertar da Força), aqui ela se torna coadjuvante do próprio contexto em que está envolvida. Por mais que a personagem seja de importância imensa dentro desta história, há ao seu redor elementos bem mais interessantes, envolvendo vários coadjuvantes. Além disto, a relação pai e filha estabelecida possui alguns excessos sentimentalóides, como se pode perceber claramente na sequência da mensagem via holograma.

Muito bem produzido e com uma qualidade técnica apuradíssima, dos efeitos especiais ao capricho na direção de arte, Rogue One não deixa também de tão bem explorar elementos e personagens bastante conhecidos dos fãs. As poucas aparições de Darth Vader são sempre impactantes, há diversas situações cômicas envolvendo stormtroopers de forma a dar-lhes alguma personalidade e mesmo a Estrela da Morte surge imponente, possibilitando que o espectador acompanhe o estrago provocado por seu raio destruidor a partir do próprio planeta atingido - algo também inédito na série, assim como o combate realizado em meio a um cenário paradisíaco. A trilha sonora, de autoria de Michael Giacchino, é belíssima e usa com sabedoria trechos das icônicas composições feitas por John Williams.

Mais denso que o usual e com um desfecho impactante e apoteótico, Rogue One é um filme meticulosamente planejado para os fãs de Star Wars, que terão a chance de vibrar com as batalhas encampadas por X-Wings e Naves Imperiais, além das conexões com Uma Nova Esperança. É nítido o respeito existente por Gareth Edwards e sua equipe ao que a trilogia original representa, não apenas como história mas como ambientação, no sentido de entregar algo coerente com o que já foi produzido sem se ater a uma mera revisita. Ótimo filme, que promete ainda mexer com o coração dos fãs em sua reta final.