Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
O Homem Que Elas Amavam Demais

A guerra dos cassinos

por Francisco Russo

“Faço o possível para evitar as emoções dos outros”. A frase, dita pelo personagem de Guillaume Canet no decorrer de O Homem Que Elas Amavam Demais, pode ser considerada uma boa síntese do próprio filme. Apesar do – exagerado – título, assim é este novo trabalho do diretor André Téchiné: seco e distante, falando de emoções sem, no entanto, se entregar a elas.

A bem da verdade, O Homem que Elas Amavam Demais é um filme confuso em sua proposta. Inicia abordando os bastidores do competitivo mercado de cassinos na Riviera Francesa, tendo como ícones os personagens de Catherine Deneuve e Jean Corso, ele com ligações suspeitas com a máfia italiana. Não demora muito para inserir uma disputa familiar, envolvendo dinheiro e traição, o que dá um certo ar novelesco à trama como um todo. Em uma reviravolta brusca e mal fundamentada, termina como típico drama de tribunal. Por mais que seja baseado em fatos reais, há no longa-metragem uma ambição despropositada de a tudo falar sem se aprofundar de forma devida. Com isso, cada um destes trechos deixa a desejar, muito devido à própria opção do diretor na forma distante como apresenta seus personagens.

Bastante verborrágico, característica do próprio cinema feito por Téchiné, O Homem que Elas Amavam Demais derrapa especialmente na fragilidade dos relacionamentos retratados – em momento algum é possível acreditar nos laços feitos (e desfeitos) ao longo da história. Por mais que Catherine Deneuve esteja bem em cena, transmitindo a dignidade ferida de sua personagem, o longa conta com uma atuação canhestra de Adèle Haenel como sua filha Agnes e outra burocrática de Guillaume Canet, o tal “homem que elas amavam demais” (o título original, se traduzido, seria “o homem que se amava demais”, o que altera consideravelmente a impressão inicial que se tem do filme). Como é através de ambos que a história oferece reviravoltas, suas atuações comprometem bastante o longa-metragem.

Mas, justiça seja feita, Adèle é a única do elenco cuja personagem realmente expõe seus sentimentos, de forma até mesmo exagerada – tudo para deixar bem explícito o porquê dos rumos da trama. É interessante notar que este distanciamento emocional que permeia quase todo o filme é apresentado pelo diretor como uma característica natural dos franceses. Basta reparar que, quando deseja expor sua indignação perante à traição de Agnes em relação à própria mãe, Téchiné usa um personagem italiano, com direito à reação emocional típica dos latinos.

Diante dos problemas de atuação e de condução da narrativa, O Homem que Elas Amavam Demais perde muita força ao longo de sua duração. Quando o filme aparenta enfim chegar ao desfecho, surge a reviravolta final que transforma tudo em um estranho julgamento, seja pelo modo como é conduzido ou pela maquiagem mal feita do personagem de Canet (e o fato de Catherine Deneuve, que passou pelo mesmo período de tempo, mal sofrer com o envelhecimento). Interessante a princípio pelos bastidores no mundo dos cassinos, o longa acaba se tornando uma grande decepção pela estrutura assumida e os rumos que adota.