Conflito pra quê?
por Renato HermsdorffDepois da apresentação dos protagonistas, Eduarda (Vanessa Giácomo, de Jean Charles), uma ortopedista bem sucedida; e o produtor de eventos Marcos (Rafael Infante, do canal online de humor Porta dos Fundos), vem o conflito que faz a transição para o segundo ato de Divã a 2. Casados quando ainda eram jovens, os dois, que já tem um filho, concluem que a relação de dez anos já está desgastada, o que leva à separação, de comum acordo.
O segundo ato, então, é marcado pela experiência dos personagens no novo status matrimonial do Facebook. Desimpedidos, ele engata em uma selvagem vida de solteiro nanight; já ela se permite conhecer outros caras quando o trabalho dá uma folga.
Até que a nova vida vazia põe Marcos na trilha de volta pra casa (o conflito dele que desemboca no terceiro ato); ao passo que Eduarda conhece um homem maduro, Léo (Marcelo Serrado) que parece ser o sogro que mamãe pediu (será mesmo? A dúvida é plantada na cabeça do espectador em uma saída criativa do texto) – e que Marcos nunca foi, diga-se –, donde brota o conflito final dela: e agora, com as investidas do ex, com quem ela fica?
Partido de um argumento original até, para os padrões brasileiros (a saber: a falência de uma relação de longa duração entre pessoas que começaram a vida de casados cedo demais), Divã a 2 se propõe, inicialmente, a ser um exercício de roteiro clássico dividido em três atos. Até aí, tudo bem. Nada contra um puro e simples entretenimento numa tarde de domingo no cinema.
O filme, porém – que se apresenta como o início de uma franquia (mal comparando, como os filmes do Batman), e não guarda (quase) nenhuma relação com a produção de 2009 protagonizado por Lília Cabral: muda o elenco, muda o diretor (José Alvarenga Jr. dá lugar a Paulo Fontenelle), mudam os roteiristas (sai Marcelo Saback, entram os desconhecidos Leandro Matos e Saulo Aride), a história nem sequer se baseia em uma argumento da escritora Martha Medeiros), fica a produtora (Total Entertainment) – enfim, o filme é tão cheio de concessões para agradar (ou não desagradar) ao público que, além da falta de originalidade, peca por tirar da protagonista, ao final, exatamente o direito de escolha. Ou seja, o potencial impacto que o conflito teria não existe simplesmente porque não há mais conflito. E sem conflito (por mais simples que seja), não há cinema.
Com a decisão, Divã a 2 pode não desagradar a ninguém (que torcia por um ou outro personagem), mas tampouco deve emocionar. (E dado o propósito do filme - nada como um puro e simples entretenimento numa tarde de domingo no cinema – nem vamos entrar no mérito se a personagem – a mulher, em um contexto mais amplo – precisa ou não de um homem para viver feliz para sempre).
Para não deixar dúvidas de que, mesmo abordando um assunto, em tese, pesado (separação), trata-se de um filme leve, o alívio cômico (outro artifício do texto que está lá) é direcionado para os personagens de George Sauma (Tim Maia), como o assistente de Eduarda; e Fernanda Paes Leme (Cilada.com), a amiga ninfo da protagonista. Os papéis são tão rasos em suas funções quanto sem-graça – e desembocam para um encontro constrangedor.
Em última análise – com o perdão do trocadilho –, o que falta de coragem, sobra de previsibilidade em Divã a 2.