Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Avanti Popolo

Avance o povo

por Francisco Russo

O início de Avanti Popolo é instigante. A câmera presa no capô de um carro, percorrendo as ruas de uma cidade grande como se ela fosse o olhar do próprio espectador, em uma situação similar às exibidas em jogos de videogame em primeira pessoa. O que vem a seguir aumenta ainda mais a curiosidade: um homem chega à casa do pai, que o recebe com absoluta frieza. Sempre acompanhado de sua fiel cadela Baleia, ele vive em um mundo próprio, como se apenas esperasse a morte. Enquanto isso, o filho se aloja na sala e passa a vasculhar os objetos espalhados pela casa. Todo este ambiente apresentado em meio a imagens de filmes em superoito, de baixa qualidade, exibidas aparentemente de forma aleatória.

Com poucos recursos, o diretor Michael Wahrmann conseguiu criar um cenário que atrai o olhar do espectador pelo lado conceitual. Não apenas pela apresentação dos personagens, mas também por certas metáforas utilizadas. Um exemplo claro é a tentativa constante do filho em abrir as janelas da casa, com o pai sempre impedindo-o, servindo como analogia à própria abertura que cada um dá ao ato de viver. Por outro lado, o pai não vive enfurnado em casa, o que gera um contraste curioso que desperta a vontade de saber mais sobre os personagens. Eis o grande problema do filme: o diretor nega este prazer ao espectador e, com isso, acaba frustrando-o.

Por mais que seja um filme conceitualmente interessante, Avanti Popolo simplesmente empaca em determinado momento. A história não avança e passa a rodar em círculos, seja através da repetição das mesmas situações, da exibição de trechos de filmes antigos ou de piadas soltas na narrativa, como as envolvendo o taxista que adora hinos oficiais ou o sarcasmo existente em torno do Dogma 2002. Entretanto, este último apenas poderá ser compreendido por quem tem algum conhecimento prévio sobre o Dogma 95, movimento criado pelos diretores Lars von Trier e Thomas Vinterberg que estipulava uma série de regras ao ato de filmar. Da mesma forma, apenas quem conhece um pouco do meio cinematográfico nacional poderá notar a opção em colocar nomes conhecidos da sétima arte brasileira em papéis que não lhes são muito comuns. É o caso do diretor Carlos Reichenbach, em seu último trabalho no cinema, do também diretor Eduardo Valente e de André Gatti, conhecido professor e estudioso da área. Todos aparecem como atores no longa-metragem.

Diante da falta de interesse em explorar melhor seus personagens, já que há apenas um fiapo de história ligando-os a traumas decorrentes da ditadura militar, Avanti Popolo perde ritmo e também o interesse do espectador à medida que a trama se desenrola. O que não demora muito, já que o filme tem apenas 72 minutos. No fim das contas, acaba sendo uma boa ideia mal desenvolvida por seu realizador.