Sem originalidade
por Francisco RussoContinuações costumam ter algumas regras seguidas pelos grandes estúdios: é preciso atender à vontade do público em ver mais daquele personagem/história tão querida, mas entregando algo próximo ao que fez com que gostasse tanto do filme original. Afinal de contas, ninguém quer correr o risco de uma debandada geral que coloque um ponto final na possível franquia. As melhores sequências vão além e ainda conseguem avançar na cronologia da série, inserindo situações novas e criativas que evitam a sensação de "trama requentada". Por mais que seja bem intencionado, não é o que acontece com A Escolha Perfeita 2.
Sequência do sucesso inesperado de 2012, que faturou US$ 115 milhões nas bilheterias ao redor do planeta, A Escolha Perfeita 2 é um típico filme cujo roteiro foi milimetricamente calculado para seguir à risca os passos do original, inclusive reaproveitando piadas (a da ruiva, vista no pós-créditos do primeiro filme) e situações (o duelo de bandas a capela, agora mais "profissional"). Diante desta intenção explícita, é emblemático o fato da abertura do longa-metragem, com a clássica música-tema da Universal Pictures cantada a capela, seguir a mesma proposta de outro sucesso do estúdio lançado neste mesmo ano: Minions. Se dá certo, por que não repetir?
Apesar de tamanha falta de originalidade, A Escolha Perfeita 2 não chega a ser um filme ruim. Muito graças à qualidade sonora do elenco, especialmente Anna Kendrick e Hailee Steinfeld, e os próprios números musicais, mais elaborados do que os vistos no primeiro filme. Já a trama não foge muito do que já foi visto: Beca (Kendrick), Fat Amy (Rebel Wilson) e sua turma agora estão no último ano da faculdade e são tricampeãs do torneio acadêmico de bandas a capela - ou seja, as Barden Bellas são o maior sucesso! O que não significa que estejam livres de trapalhadas, como acontece na desastrada apresentação para o presidente dos Estados Unidos. Ridicularizadas nacionalmente, elas são proibidas de competir em âmbito acadêmico e a única chance de sobrevivência é vencer o cobiçado torneio mundial, cuja participação está garantida por terem ganho o último campeonato nacional.
Sem citações habilmente inseridas no roteiro, como aconteceu com Clube dos Cinco no filme original, A Escolha Perfeita 2 investe firme no trinômio falta de foco das integrantes do grupo, diálogos que buscam o riso fácil pelo absurdo do que é dito e um punhado de situações de cunho sexual e escatológico. Se no primeiro filme há ênfase no relacionamento nascente entre Beca e Jesse (Skylar Astin), aqui é Fat Amy quem precisa resolver seus problemas do coração. Rebel Wilson, inclusive, tem mais espaço neste longa-metragem, provavelmente devido à popularidade conquistada nos Estados Unidos entre os dois filmes. Por mais que ela se saia bem nas apresentações musicais, seu humor físico é bem aproveitado apenas na sequência em que atravessa o lago - auxiliada pelo bom uso dos clichês em torno da situação, é preciso ressaltar.
Para não dizer que tudo é uma cópia, há dois pontos novos a serem observados. Um deles é a questão da música autoral versus cover, explorada principalmente através da personagem de Hailee Steinfeld, uma das novatas do elenco. Por mais que não haja um aprofundamento sobre o tema, pela própria característica do longa-metragem, é levantado um certo debate sobre a importância de trazer algo novo ao meio musical. Outra novidade, esta negativa, é em relação à dupla de comentaristas formada por Elizabeth Banks e John Michael Higgins, um dos pontos altos do filme original. Eles retornam com comentários ácidos e inusitados, mas desta vez com um viés preconceituoso em relação ao que não é dos Estados Unidos. Por mais que seja um meio de ridicularizar a desinformação típica do americano médio em relação ao que existe fora do seu país, ainda assim é bem ofensivo em determinadas situações. A mesma ideia é explorada também através de uma das novas Barden Bellas, uma latina que abre a boca apenas para ridicularizar sua própria situação como imigrante.
Por mais que possua vários problemas conceituais, que às vezes incomodam pela falta de espontaneidade imposta em determinados momentos da trama, A Escolha Perfeita 2 ainda consegue ser agradável devido ao bom elenco e aos números musicais exibidos. Mas, ainda assim, não faz jus ao sucesso obtido nos cinemas americanos, onde praticamente dobrou a bilheteria do filme original. Trata-se de um filme razoável que aposta no tom emotivo para um possível desfecho desta geração, o que de forma alguma impede que uma nova continuação seja produzida. Com o tanto que arrecadou, trata-se de mera questão de tempo.
Um detalhe que chama a atenção é a presença de David Cross como o organizador do duelo entre bandas a capela, pelo fato dele ter interpretado um produtor musical na trilogia Alvin e os Esquilos. Não se trata de qualquer tipo de crossover entre as duas séries, mas é provável que a similaridade dos personagens tenha sugerido sua contratação, de forma a provocar uma rápida identificação junto ao público. Afinal de contas, por mais que os filmes de Alvin sejam mais voltados às crianças, o fato de ambas as séries apostarem em versões de sucessos musicais insinua que atraiam o mesmo tipo de espectador. Assim funciona a mente dos grandes executivos de Hollywood...