Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Odeio o Dia dos Namorados

"Ai, dona Débora, assim você me mata..."

por Francisco Russo

“A Christmas Carol”, de Charles Dickens, é uma das histórias mais conhecidas da atualidade. Você pode até não reconhecê-la pelo título original, mas provavelmente já viu alguma de suas adaptações no cinema, como Os Fantasmas Contra-atacam e Os Fantasmas de Scrooge. Trata-se da clássica saga de um homem de mal com a vida e sem amigos que recebe a visita de três fantasmas, que o acompanham em comemorações de Natal ocorridas no passado, no presente e no futuro. A partir destas experiências, ele revê seus conceitos e seu modo de vida. Odeio o Dia dos Namorados, nova comédia dirigida por Roberto Santucci, explora esta mesma história, mas com uma mudança importante: ao invés do Natal, o passeio é por comemorações – ou a ausência delas – em vários dias dos namorados.

Dito isto, o longa-metragem acompanha a intragável Débora (Heloísa Périssé), que não perdoa quem vê pela frente. De olho única e exclusivamente na carreira, ela passa por cima de todos aqueles que a cercam com um intenso mal humor – que, obviamente, traz consequências indesejadas. Entretanto, não é este seu maior problema – na verdade ela nem considera um problema, pois pouco se importa com o outro. Débora precisa criar uma nova campanha publicitária que tenha por base o amor, este mesmo sentimento que tanto ridiculariza. Para piorar ainda mais, a negociação será feita com Heitor (Daniel Boaventura), um ex-namorado que foi humilhado por ela no passado. Ou seja, cheiro de desastre no ar.

Mas, como Dickens bem ensinou, para todos há a possibilidade de redenção, especialmente quando há um fantasma amigo por perto. É o caso de Gilberto (Marcelo Saback), ex-colega de escritório de Débora que ressurge em sua vida após ela sofrer um grave acidente automobilístico. À beira da morte, é hora dela rever sua vida e compreender o que pensam dela. Nesta jornada Débora passa por vários dias dos namorados, acompanhando o que aconteceu, acontece e acontecerá à sua volta. O desfecho, é claro, você pode imaginar sem grande esforço.

Apesar de ser claramente inspirado no clássico de Dickens, Odeio o Dia dos Namorados traz algumas peculiaridades tipicamente brasileiras. A começar pela influência musical, marcante nas sequências de abertura e de encerramento, que até divertem graças ao formato e as coreografias apresentadas (a última cena é no melhor estilo Amizade Colorida). No decorrer do filme há ainda várias referências aos anos 1980, não apenas em relação às canções que faziam sucesso na época mas também ao comportamento típico do período. Por outro lado, a visão do futuro traz algumas boas piadas envolvendo ícones dos dias atuais, como a ameaça de caos climático e a música “Ai, Se Eu Te Pego”, de Michel Teló (que surge algumas vezes ao longo do filme).

Entretanto, é no estilo de comédia que a marca nacional surge mais forte. Afinal de contas, o personagem escolhido para acompanhar Débora em sua jornada é um velho clichê do humor brasileiro: o homossexual espalhafatoso, daqueles que desmunhecam à vontade e soltam diversas piadas de duplo sentido – algumas bem grosseiras, por sinal. Fácil de identificar - e até de rir, para quem gosta da proposta -, o objetivo é explorar um humor repleto de frases de efeito no melhor estilo Zorra Total. Trata-se de uma aposta escancaradamente popularesca, assim como foi o trabalho anterior de Santucci, Até que a Sorte nos Separe. Para quem curte, é um prato cheio.