Quase um desastre
por Francisco RussoAo longo de 40 anos de cinema, Hugo Carvana fez da comédia seu lar. O veterano diretor é um especialista do gênero, costumeiramente trazendo em seus longa-metragens a figura do malandro que precisa encontrar um meio para escapar das confusões por ele provocadas. Em Casa da Mãe Joana, lançado em 2008, Carvana buscou inspiração em sua própria história pessoal para trazer às telas a vida de três grandes amigos que, vagabundos por ideologia e farristas por natureza, dividem um apartamento. Por mais que o filme não tenha sido um estouro de público - teve cerca de 400 mil espectadores -, foi o suficiente para que ganhasse uma continuação. Infelizmente.
A bem da verdade, tudo em Casa da Mãe Joana 2 aparenta ser um tanto quanto desconexo. Por mais que abusasse das piadas apelativas, o filme original mantinha uma certa coesão de história que permitia alguma conexão entre os amigos Montanha (Antonio Pedro), Juca (José Wilker) e PR (Paulo Betti), mesmo que cada um tivesse uma subtrama particular. Aqui estas subtramas retornam, mas em momento algum o trio age em conjunto. Com isto o que se vê em cena são historietas que pouco têm a ver uma com a outra e, ainda por cima, fogem da lógica da própria série. O maior exemplo é a personagem de Juliana Paes, fruto da imaginação do escritor Montanha no primeiro filme e que aqui tenta ser invocada por uma tal Associação dos Amigos do Além. Mas peraí, Dolores del Sol não era um fantasma e Montanha sabia bem disto. Por que então partir para esta tentativa espiritual? Para abrir uma brecha para o surgimento de um fantasma gay, com sotaque tipicamente francês. A justificativa? Ele foi camareiro de Maria Antonieta. Ah bom...
Além das enormes lacunas de roteiro, Carvana ainda peca na insistência em piadas envolvendo drogas e sexualidade que não têm a menor graça – não foi à toa que o diretor buscou parte do elenco no programa Zorra Total. Com isso dá-lhe Wilker disputando um campeonato mundial de quem fuma baseado por mais tempo, frases de efeito como “tem um viado fantasma na sala”, associação apimentada a Tragam a Cabeça de Alfredo Garcia... Todos momentos constrangedores, alguns dignos da série Todo Mundo em Pânico. E isto não é, nem de longe, um elogio.
Para não dizer que Casa da Mãe Joana 2 é um desastre completo, há uma sequência bacana onde o diretor conseguiu mesclar referências a Dona Flor e Seus Dois Maridos, através de uma cena clássica do filme estrelado por José Wilker, e o desfecho de Casablanca. Mas só. De resto é um filme apelativo, com efeitos especiais toscos em torno do fantasma Zazie e um roteiro capenga que mal dá sustentação para a história do filme como um todo. Um dos piores filmes lançados em 2013 nos cinemas.