Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Assassino a Preço Fixo 2 - A Ressurreição

Quero ser James Bond

por Francisco Russo

O sonho íntimo de todo grande estúdio de Hollywood é ter uma franquia do porte de James Bond em mãos. Um personagem icônico e mundialmente conhecido, capaz de atrair o público por décadas e que sobrevive à troca de atores. Não é preciso dizer o quão difícil é produzir algo do tipo e, mais ainda, superar os inevitáveis altos e baixos, criativos ou mesmo financeiros. Entretanto, nada impede que se tente criar o seu James Bond, replicando características bem conhecidas do eterno agente 007. É o que acontece neste desnecessário Assassino a Preço Fixo 2.

Refilmagem de um longa homônimo de 1972, estrelado por Charles Bronson, Assassino a Preço Fixo divertia graças ao carisma da dupla Jason Statham e Ben Foster, aliado às bem coreografadas cenas de luta, por vezes brutais. Por mais que não trouxesse algo de propriamente novo, era bem feito e, dentro do gênero ação, funcionava a contento. Surge então a pergunta básica: se a proposta do embate do assassino profissional com o filho de seu melhor amigo já estava resolvida no longa original, e este sequer deu um retorno nas bilheterias tão significativo assim - US$ 62 milhões, mundialmente -, por que apostar numa sequência? E, pior ainda, descaracterizando o personagem principal?

A única justificativa plausível é a tal intenção em transformar o Arthur Bishop de Jason Statham numa vertente pouco convincente de James Bond. Não no sentido de colocá-lo como agente secreto, nada disso. Bishop permanece como assassino de aluguel, agora aposentado e vivendo escondido em um Rio de Janeiro construído cenograficamente a partir de muito chroma key (as famosas telas verdes, onde paisagens e efeitos especiais são inseridos após a gravação). Trata-se apenas da primeira de várias cidades pelas quais o personagem percorrerá ao longo do filme, todas ressaltando belezas naturais, assim como faz o bom e velho 007 há anos.

Além de ser uma contradição em relação à própria origem de Bishop, a ideia de ter um personagem internacional possibiliza um sem número de furos no roteiro, como diálogos óbvios e situações estereotipadas. Por exemplo: se a entrada em cena de Jessica Alba tem a ver como uma mensagem contra violência doméstica, ela logo salta para uma maquinação mal explicada do vilão e, pouquíssimo tempo depois, se torna o interesse amoroso de Bishop - tudo em um estalar de dedos, é bom frisar. As motivações de Sam Hazeldine como vilão são risíveis, beirando o constrangimento. O mesmo acontece perto do final, quando Tommy Lee Jones subitamente aparece com um visual bizarro e Jessica Alba quase se afoga em uma banheira de hidromassagem (!!!) e ainda tenta fazer um torniquete na altura do peito (!!!!!!!).

Diante de tantos absurdos não-intencionais, o que prende alguma atenção são certas sequências de ação. A no Rio de Janeiro, envolvendo o bondinho do Pão de Açúcar, diverte pelo absurdo - algo de deixar Ethan Hunt (Missão Impossível) com inveja! -, assim como a piscina de vidro em Sydney. As lutas corpo a corpo exploram a já conhecida habilidade de Statham e, assim como no filme original, buscam uma certa

brutalidade. Ainda assim, as idas e vindas do personagem principal para cumprir as tais três tarefas impostas pelo vilão são prejudicadas pela rapidez com a qual são apresentadas e resolvidas, sempre de olho em proporcionar ação constante ao espectador.

Com a sombra de Bond sempre à espreita - Jessica Alba nada mais é do que uma típica Bond girl e há até recriação da famosa cena de Ursula Andress em 007 Contra o Satânico Dr. No, com direito à versão masculina vista em 007 - Cassino Royale -, Assassino a Preço Fixo 2 fracassa não apenas como sequência mas também como cópia. Trata-se de um punhado de clichês embalados em paisagens estonteantes, na tentativa de camuflar o quão ruim é o roteiro escrito pela dupla Philip Shelby e Tony Mosher.