Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
O Exótico Hotel Marigold 2

Caminho das Índias 2

por Renato Hermsdorff

Boa parte das duas horas de duração de O Exótico Hotel Marigold 2– assim como no primeiro filme – é gasta na abertura. Isso porque é preciso dar conta de (re)apresentar os conflitos do numeroso elenco, que volta para a sequência do “simpático”, porém fraco, O Exótico Hotel Marigold. Difícil justificar o que parece ser o início de uma franquia cujo primeiro produto não é lá essas coisas (artisticamente, já que, tendo custado cerca de US$ 10 milhões, o longa-metragem de 2012 faturou em torno de US$ 137 mi nas bilheterias mundiais. Está justificado).

Dessa vez (vamos lá), Evelyn (Judi Dench) está mais independente profissionalmente e tem dificuldades em dar o primeiro passo na direção de Douglas (Bill Nighy), que sofre do mesmo freio; o saidinho Norman (Ronald Pickup), em uma relação monogâmica com Carol (Diana Hardcastle), desconfia que ela o esteja traindo; Madge (Celia Imrie) não sabe quem escolher entre os dois ricaços para quem dá corda; e Muriel (Maggie Smith) está mais ranzinza – e poderosa – do que nunca na codireção do exótico hotel. Ufa!

Cabe à última senhora, aliás, o papel mais divertido do filme, por seu clássico humor inglês afiado, involuntário, no comando do estabelecimento ao lado do falastrão Sonny (Dev Patel), um dos personagens mais irritantes do cinema. Ele precisa expandir os negócios – com o hotel cheio, quer abrir uma filial, mas para inaugurar uma nova unidade, carece de um empréstimo –; ao mesmo tempo em que se prepara para o casamento com a noiva – e morre de ciúmes do melhor amigo bonitão dela que retorna a Déli depois de um tempo fora da cidade.

Se a essa altura do texto, você já está entediado(a), não atire curry nos olhos do crítico: não fomos nós que (em)bolamos tantas tramas. Mas tem mais: há dois novos hóspedes, Lavinia Beech (Tamsin Greig) e Guy Chambers (Richard Gere, sim, ele!). Sonny desconfia que o grisalho seja um dos olheiros da rede de hotel para quem pediu empréstimo, ao mesmo tempo em que o americano se encanta pela mãe do indiano (eu já mencionei que Jean, ex-mulher de Douglas, também retorna para a Índia, com a filha? Deixa pra lá).

O fato é que para dar conta de tantos personagens, tantas relações, tantos "conflitos", até que duas horas de projeção é um tempo razoável. Porém, assim como no filme inicial do mesmo John Madden, não há um mínimo aprofundamento de nenhum deles, pra ficar no raso. Cavando um pouquinho mais, o fato de o personagem de Patel, que, no primeiro filme servia de contraponto para a velhice, ganhar mais peso na continuação, leva O Exótico Hotel Marigold 2 a contar uma mentirinha quando se apresenta como um filme sobre/ para a terceira idade. Não deixa de ser uma concessão (“é sobre velhos, mas tem jovem também!”, parece gritar a obra), das muitas que o filme faz para não correr o risco de causar nenhum incômodo no público.

O resultado é uma comédia previsível, que mais lembra uma novela sem sentido que explora os clichês de uma cultura exótica estrangeira (Caminho das Índias?) Se há algum aspecto em que o segundo filme supera o antecessor, esse fator são os diálogos: mais simples e críveis, com menos firulas e frases de impacto como há três anos atrás. Mas não chega a salvar O Exótico Hotel Marigold 2 da falência de originalidade de uma produção bem água com açúcar – ou adoçante.