Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Deixa Rolar

O clichê do amor

por Francisco Russo

De todos os gêneros do cinema, talvez a comédia romântica seja aquele cujos clichês estejam mais explícitos e intocáveis com o passar dos anos. Também por isso, é este um dos gêneros que provocam maior desânimo junto aos cinéfilos, pela ausência de frescor. Deixa Rolar aborda este desgaste com um certo cinismo disfarçado, envolto em bom humor, buscando criticar as comédias românticas sem deixar de ser uma delas.

De certa forma, o longa-metragem dirigido por Justin Reardon lembra o argentino O Crítico, exibido nos cinemas brasileiros no final de 2014. Ambos têm por proposta a crítica ao gênero, mas através de óticas distintas: se O Crítico esmiuçava os clichês e as técnicas exploradas, através do olhar de um crítico de cinema, aqui vemos um roteirista que não acredita no amor mas é obrigado a escrever uma comédia romântica típica. O motivo? Só assim conseguirá o sonhado trabalho em um grande filme de ação, em um toma-lá-dá-cá que reflete bem como funciona o mercado de trabalho em Hollywood.

Em meio aos bastidores da indústria do entretenimento, personificada no personagem de Anthony Mackie, há a crítica ao amor idealizado que, aos poucos, torna-se a glorificação do amor possível (e da coragem ao tentar este amor). Todo este processo é apresentado sob a ótica do tal roteirista, bem interpretado por Chris Evans, através de etapas: desde o descrédito em encontrar sua cara-metade, impulsionado por um trauma da infância, até a luta pela conquista da amada. Cada passo norteado por dúvidas e mais dúvidas sobre o que fazer e como agir, como reza a cartilha dos casais flechados pelo cupido sem qualquer aviso prévio. É este, no fim das contas, o grande problema do longa-metragem.

Por mais que traga algumas boas sacadas, como o próprio Evans interpretando o coração de seu personagem no melhor estilo Humphrey Bogart, a história de Deixa Rolar simplesmente empaca no segundo ato. Mais exatamente, após o encanto inicial entre Evans e Michelle Monaghan e os esforços do primeiro em reencontrá-la. Tudo porque os roteiristas Chris Shafer e Paul Vicknair optam pelo blá-blá-blá interminável sobre relacionamentos a partir das consultas do roteirista ao seu grupo de melhores amigos, cada um trazendo sua própria opinião e história. Apesar de inicialmente ser interessante, a insistente proposta de colocar Evans e Monaghan personificando histórias alheias acaba se tornando um mero meio de ocupar minutos preciosos do longa-metragem. Cansa. Quando o filme enfim retoma a batalha pelo coração da amada, o estrago já foi feito.

Irregular, mas interessante na proposta, Deixa Rolar é um filme que até prende a atenção, sem jamais empolgar. É curioso notar como, após o início bastante cínico sobre o amor, ele encerra com uma típica cena de busca apaixonada. Contrastes que refletem bem a proposta de crítica e afago às comédias românticas, bem sugerida mas não tão bem executada neste longa-metragem.