Críticas AdoroCinema
1,0
Muito ruim
Astro - Uma Fábula Urbana em um Rio de Janeiro Mágico

Viagem ao vazio

por Bruno Carmelo

Imagine que você encontra os amigos em um bar, e um deles lança: "E se a gente fizesse um filme?" Alguém sugere a imagem da Suécia representada por uma maquete coberta de neve, outro dá a ideia de homens asiáticos cobrindo o horizonte do Rio de Janeiro com uma faixa de "proibido", um terceiro imagina goteiras sombrias no porão da casa, um quarto pensa em uma brasileira sexy, guiando a personagem estrangeira pelos prazeres do Brasil. Agora imagine estas ideias coladas uma após a outra, e filmadas nesta ordem. O resultado é Astro – Uma Fábula Urbana em um Rio de Janeiro Mágico.

O mais engraçado é pensar que uma produtora leu este roteiro escrito a dez mãos (!) e decidiu levar a história adiante, chamando uma grande equipe e quatro diretores de fotografia (!) diferentes. O título esquizofrênico é a cereja do bolo. Apesar da presença de "fábula", não existe uma moral, apesar da "magia" e das referências astronômicas a cada cinco minutos, não há uma estética realmente fantástica, apesar da aparência infantil do conjunto, esta produção não é destinada às crianças, e apesar das referências às artes contemporâneas e conceituais nas imagens, existe pouco questionamento ou conceito por trás do filme.

O farrapo de roteiro apresenta Astro (Alexandra Dahlstrom), garota sueca que vem ao Brasil em busca de uma herança. Esta personagem perambula como um fantasma pela cidade: ela quase nunca se expressa, não tem vontades nem um temperamento definido. Ela é órfã, mas não sente o peso do luto, ela tem uma óbvia relação homoerótica com a nova e onipresente amiga, mas também não expressa desejo, ela busca efetuar acertos legais para a herança, mas nunca parece querer tomar possa dos bens a que tem direito. Com os olhos arregalados, Astro passeia pelo Rio, arrastada por bairros diferentes, sem dizer de onde veio, nem aonde vai.

O grande problema deste filme é apostar em diversas simbologias (as plantas no porão, as instalações crescentes na sala do advogado, os grafiteiros em frente da casa), sem jamais fornecer chaves de leitura. Fica a impressão de uma história aleatória, onde as decisões artísticas se fizeram dia após dia, como se estivéssemos assistindo o desenvolvimento ao vivo de um brainstorming – mesmo sabendo que o cinema, com a grande produção material necessária, é a menos aleatória e espontânea de todas as artes.

Por fim, o mercado cinematográfico está cheio de produções ruins por questões técnicas, éticas ou ideológicas, mas raros filmes conseguem ser ruins pela ausência gritante de coerência artística. Astro – Uma Fábula Urbana em um Rio de Janeiro Mágico é um dos projetos menos coesos que o cinema nacional já produziu. Deve ser difícil realmente detestá-lo; mais fácil é atravessar os 80 minutos de narrativa apático, sem sentir o que quer que seja nem pela personagem, nem pelas imagens. Astro é uma produção fácil de esquecer, de deixar evaporar na memória, como um sonho confuso que não faz mais sentido no dia seguinte.