Perdido na natureza
por Bruno CarmeloA Floresta de Jonathas é um filme curioso. No início, esta parece ser uma produção realista, do tipo que observa seus personagens de longe, com câmeras fixas, sem intervir. Assim, Jonathas (Begê Muniz) é visto vendendo frutas na beira da estrada, o irmão Juliano (Ítalo Castro) foge com duas belas turistas, os pais mantêm uma produção agrícola. Demora mais de 30 minutos para vermos um primeiro rosto de perto. Esta parece ser uma trama sobre a vida de pessoas comuns, em que o banal interessa mais do que o extraordinário.
No entanto, a certa altura da trama, os personagens começam a olhar diretamente para a câmera (imagem ao lado), de maneira artificial. Surgem então imagens de natureza vazia, contrastadas com vozes dos personagens em off, além de momentos de realismo fantástico para quebrar o ritmo narrativo. Em uma cena, o pai de Jonathas fica bravo e quebra as árvores ao redor em uma coreografia muito precisa, parando exatamente nos terços exigidos pelo enquadramento. Em outra cena, a câmera desvia de um grupo escolar e desliza sozinha pela natureza, até alcançar outro grupo de jovens adiante, tocando música. Ao invés de dizer que A Floresta de Jonathas torna-se “outro filme”, seria mais correto dizer que ele se torna vários outros filmes, com estilos muito diferentes.
Esta parece ser a maior ousadia, e também o maior defeito da obra: sua sede de incluir, em uma mesma trama, tantas abordagens visuais, tantas morais, tantos registros. A imagem do garoto nu no meio da floresta remete a algo natural e íntimo, mas logo em seguida ele veste suas calças jeans e começa a buscar sinal no celular. Tudo pode acontecer nesta história – inclusive a aparição de carros de brinquedo plantados em árvores. A Floresta de Jonathas passa do real ao fantástico com uma velocidade surpreendente.
Talvez a ambição pluralista do diretor Sérgio Andrade fosse melhor aproveitada se ele contasse com um grande elenco em mãos, capaz de transitar entre tantas abordagens. Mas seus atores não profissionais são limitadíssimos em cena: Muniz nunca consegue transmitir desespero quando está perdido na natureza, e os atores que interpretam seus pais declamam suas falas com a artificialidade de um teatrinho de escola. As cenas sem diálogos, com os jovens interagindo na floresta - as brincadeiras na água, a sedução com Milly (Viktoryia Vinyarska) – são certamente as melhores do filme, enquanto os confrontos dialogados entre os quatro membros da família acentuam as deficiências dos atores e a insuficiência dramática dos planos fixos.
Pelo menos, A Floresta de Jonathas serve para apresentar um diretor ambicioso e para destacar a pouco conhecida produção cinematográfica do Amazonas. A bela imagem final mostra que Sérgio Andrade tem, sim, controle do seu enquadramento, do uso do tempo e do espaço. É uma pena que, até chegar neste ponto, ele tateie por tantos caminhos diferentes, perdido como o próprio Jonathas em sua floresta. Fica a impressão de que, com um roteiro bem trabalhado e um elenco afiado, o diretor é capaz de ir muito longe.