Uma viagem pessoal
por Francisco RussoJá há alguns anos parte dos cineastas brasileiros resolveu enveredar pelo caminho duvidoso dos documentários pessoais, onde apresentam fatos ligados à sua própria vida ou de sua família. Por vezes os retratados até contam com elementos atraentes ao grande público, casos de Diário de uma Busca e Marighella, mas em outros nada mais é do que puro egocentrismo sendo exercido com uma câmera na mão. A atriz Petra Costa decidiu se arriscar neste meio ao rodar um documentário sobre a irmã, Elena, que dá nome ao seu primeiro longa-metragem. Entretanto, o que se vê na tela é mais do que um mero retrato de um parente, mas uma busca devastadora por alguém que pouco se conhece de fato.
Antes de tudo, é preciso ressaltar que a diretora teve coragem. Nem tanto por fazer o filme, mas por remexer em momentos tão dolorosos que, independente de quem seja, machucam quando voltam à superfície. Isto sem falar do risco em expor este drama pessoal no cinema, permitindo que todos adentrem sua história e possam opinar sobre ela a seu bel prazer. Mas, deixando todas estas questões envolvendo o lado pessoal de lado, Elena é um grande filme principalmente pelas opções estéticas de Petra Costa. O tom poético nas imagens e na trilha sonora conferem ao filme uma beleza impressionante, impulsionada pela sinceridade explícita demonstrada pela diretora na história retratada. Sim, pois mais do que simplesmente contar a história da irmã, Elena cria um certo suspense sobre o que realmente aconteceu. Sabe-se que ela não está mais ali e, por mais que como isto tenha acontecido possa ser imaginado, quando a verdade vem à tona é de uma avalanche emocional contagiante.
Outro ponto bastante interessante do longa-metragem é o uso das imagens de arquivo. Importantíssimas para a história apresentada, elas surgem nos mais diversos formatos e sempre com uma narração em off, da própria Petra Costa, apresentando situações de momento ou sensações que ela e sua família tinham na época. Intervenções pontuais de sua mãe, que aparece tanto nas imagens antigas quanto nas atuais, ajudam a posicionar o espectador em relação ao antes e o depois do ocorrido. É principalmente através da narração que a diretora encontrou o ritmo do filme, um tanto quanto pausado mas essencial para uma melhor compreensão emocional dos eventos apresentados.
Elena é um filme tocante que ultrapassa, e muito, a média geral dos documentários pessoais. Trata-se de uma viagem absolutamente pessoal de Petra Costa em busca de uma irmã que pouco conheceu, mas também um filme de grande sensibilidade no que se refere à transposição para o público dos eventos e o impacto emocional decorrente deles. Um filme para ver, chorar e refletir, sem esquecer. Só assim para se ter a plena compreensão do que aconteceu e seguir em frente de alma e consciência limpa. Belíssimo, não apenas o filme mas a postura assumida pela diretora ao encarar de frente o mistério que rodeava sua irmã, Elena.