Ser ou não ser
por Francisco RussoFilmes híbridos costumam sofrer do grave problema de falta de identidade. Não são nem documentário nem ficção, mas uma mistura de ambos - o que nem sempre resulta em um trabalho interessante. É o que acontece com Esse Amor que Nos Consome, premiado no Festival de Brasília de 2012 com os troféus Candango de direção de arte e edição, que chega ao circuito comercial quase um ano após ser exibido no festival.
A história acompanha a vida de Gatto Larsen e Rubens Barbot, companheiros de décadas que acabam de se mudar para um casarão no centro da cidade do Rio de Janeiro. Por mais que o local seja "emprestado", o que significa que a qualquer momento poderiam ter que deixá-lo caso surgisse um comprador com dinheiro em caixa, ambos se asseguram na previsão de que exu impediria qualquer venda. A promessa não fica apenas nas falas de uma mulher que joga búzios, mas na própria aparição do orixá, sempre de forma ameaçadora. Com isso, Larsen e Barbot têm tempo de sobra para cuidar do local e usá-lo nos ensaios de sua companhia de dança.
O grande problema do filme é justamente a indecisão sobre o que pretende ser. Esse Amor que Nos Consome não é nem um filme sobre a companhia de dança (que até ocupa pouco tempo em cena), nem sobre a vida dos próprios Larsen e Barbot (que interpretam personas de si mesmos) e muito menos uma alegoria sobre crenças em orixás. É tudo isto, o que torna o filme excessivamente contemplativo e sem foco. De interessante há apenas as correlações feitas entre a dança e o Rio de Janeiro, através do cenário natural e dos movimentos da cidade, e algumas sequências até divertidas envolvendo Barbot e uma senhora na praça. Ainda assim, é insuficiente para evitar o desgaste natural causado pelo filme.