Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Super Nada

O fã e o ídolo

por Francisco Russo

Todo mundo tem um ídolo, seja de qual área for, que gostaria de um dia conhecer e trocar algumas palavras, nem que seja apenas para expressar o quanto admira seu trabalho. Este encontro, quando acontece, nem sempre é da forma esperada, pelos mais diversos motivos. Por vezes o nervosismo bate mais alto, impedindo que algo compreensível seja dito pelo fã, por outras o próprio ídolo passa por algum momento conturbado que impede que seja tão acessível quanto o fã gostaria. Entretanto, o pior encontro é justamente aquele que resulta em decepção, quando a imagem do ídolo é despedaçada por suas atitudes. É justamente este o tema principal de Super Nada.

A história acompanha Guto (Marat Descartes, ótimo), um artista de rua dedicado que faz todo e qualquer bico para sobreviver. Um dia, após uma apresentação, ele é convidado para um teste no programa de TV "Super Nada", estrelado pelo consagrado, mas decadente, comediante Zeca (Jair Rodrigues). Acontece que Guto é fã do programa, daqueles que chegam a defendê-lo em rodas de conversa entre amigos. Ou seja, o teste proposto não apenas é sua grande chance profissional, mas também a realização de um sonho por trabalhar ao lado de seu grande ídolo.

A relação entre fãs e ídolos não chega a ser nova no cinema, já tendo sido abordada em filmes como O Rei da Comédia e Estranha Obsessão. Em ambos o deslumbramento inicial acaba virando conflito e o mesmo acontece em Super Nada. O problema maior deste filme não chega a ser a obviedade no caminhar da história, mas o relacionamento pouco desenvolvido entre Guto e Zeca. Os personagens até são bem apresentados, com Guto ralando bastante para ser enfim reconhecido e Zeca preso a tiradas antiquadas em um programa com ar de fundo de quintal, mas ambos têm pouco tempo juntos em cena. O uso do álcool como catalisador dos conflitos acaba sendo um facilitador para a história como um todo, no sentido de não precisar aprofundar o relacionamento entre eles. Tudo acaba sendo muito simples e rápido.

O que consegue segurar de fato Super Nada é a atuação de Marat Descartes. Bastante desenvolto, ele se entrega ao personagem e demonstra ótimo timing cômico, especialmente nas apresentações que faz, seja nas ruas ou nos palcos. Por outro lado, Jair Rodrigues é simplesmente Jair Rodrigues, sem tirar nem pôr. Não há uma atuação de fato, visto que ele interpreta um personagem muito parecido com sua própria persona: o típico malandro, com muita ginga nas falas e no modo de agir. O próprio ar de decadente do personagem também se aplica ao cantor, longe das paradas de sucesso há anos.

Como um todo, Super Nada é um bom filme que se destaca mais pelo retrato do esforço do artista de rua, quase amador, que existe em todas as grandes cidades do país. Destaque também para a vinheta de abertura do programa "Super Nada", feito em animação bem canhestra, totalmente no clima antiquado e decadente proposto pela história.