Busca pessoal
por Francisco RussoExiste uma vertente na seara dos documentaristas brasileiros que aposta no caráter familiar em seus filmes, como se o que é interessante para si fosse também para o público em geral. Assim foram feitos Passaporte Húngaro, Diário de uma Busca e Marighella – curiosamente, todos dirigidos por mulheres. Neles a busca por algo de interesse pessoal as fez rodar um filme sobre o assunto, uns melhores e outros piores não pela proposta apresentada, mas justamente pelo que conseguiam exibir além do pessoal. Constantino, dirigido por Otavio Cury, vai pelo mesmo caminho.
O objetivo do filme é redescobrir o avô, Daud Constantino Khoury, visitando locais onde ele esteve e vasculhando vestígios deixados no Brasil e na Síria, seu país de origem. Falecido há mais de 70 anos, ele ainda jovem deixou seu país natal devido à guerra entre muçulmanos e cristãos. Deixou escrita uma peça teatral, importante na época mas que foi esquecida com o passar dos anos. Em suas pesquisas, Otávio descobre que não há nem mesmo um livro escrito pelo avô na Síria e que ninguém sabe onde fica a rua que recebeu o nome dele como homenagem. Ou seja, foi praticamente apagado.
Tudo muito interessante... para a família de Otávio Cury, com certeza. Em meio a uma narração em off bastante artificial e diversos registros do passado, a partir de fotos antigas ou até mesmo vídeos caseiros, é apresentada uma busca que soa mais como retrato do parente perdido. Para piorar, a própria pesquisa não tem um foco claramente definido. Com cenas dispersas, o filme foge da linearidade como se divagasse pela Síria atual em busca de vestígios de um suposto tesouro, cujo valor o espectador não consegue perceber.
O único atrativo de Constantino é o passeio pelas ruas da Síria, onde pode-se perceber o choque cultural em relação à realidade brasileira. Ainda assim, é muito pouco diante do que o filme apresenta e do que se propõe a ser. Fraco.