Road movie da terceira idade
por Roberto CunhaO gênero comédia dramática tem potencial de atrair o público, que gosta de refletir sobre temas sérios, mas com alguma dose de humor para dar aquela equilibrada nas emoções. Ela Vai, estrelado pela eterna "bela da tarde" Catherine Deneuve, é um exemplar interessante e merece uma conferida, ainda mais para os fãs de uma das musas do cinema, ainda em plena atividade na profissão.
Protagonizada por Bettie (Deneuve), a história conta sobre uma viúva que ainda mora com a mãe e toca a sua vidinha de dona de restaurante, em uma pequeno vilarejo, na França. Enquanto as duas discutem, normal numa "relação tão duradoura", o espectador descobre que a chef alimenta uma paixão antiga por um homem casado. Quando ele cumpre a conhecida promessa de largar a esposa, mas motivado por uma relação com uma jovem de 25 anos, Bettie perde o rumo e parte meio que sem destino, estrada afora, em busca de um cigarro, que possa aliviar sua ansiedade. E o que era para ser apenas umas tragadas de alívio imediato, acabam se tornando baforadas revolucionárias em sua vida, nessa "aventura" em que uma coisa puxa (ou traga) a outra.
Mais do que abordar a questão da traição, o roteiro da diretora Emmanuelle Bercot, que repete a parceria com Jérôme Tonnerre (Polissia), traz para o espectador outras questões mais delicadas (e também comuns), como o avançar da idade e, principalmente, o relacionamento difícil entre pais e filhos, fruto da indiferença e o seu consequente distanciamento. Em sua viagem ao "desconhecido", a protagonista reencontra - e precisa enfrentar - os fantasmas do passado. Aparecem então uma filha rebelde, que ela pouco conhece, um neto na mesma condição, além de um curioso reinado de miss regional, lembrança de seus tempos de beleza, que ela demonstra um certo desdém. Para alguns, a questão do belo e o tempo que passou, inclusive, poderiam até ganhar um paralelo com a vida real da atriz, atualmente com 70 anos. Mas na trama, esse ponto se parece estar muito mais ligado em uma certa anulação, causada pela paixão obsessiva do personagem.
Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim 2013, o filme estabelece uma estranha "conexão tabagista", uma vez que o cigarro (paixão dos franceses) é quase um coadjuvante. Do elenco coeso, destaque para o jovem Nemo Schiffman, que faz o netinho esperto. Com uma trilha sonora coerente, esse road movie da terceira idade ganharia muito mais ritmo, se na hora da montagem tivesse sido encurtado. Dotado de doses comedidas de humor e drama, a produção não é inovadora e entrega um resultado até previsível, porém satisfatório. Ela Vai e a vida continua. Boa sessão! ;)