Choque cultural
por Lucas SalgadoProduzido, dirigido, escrito e estrelado por Cherien Dabis, O Casamento de May chega aos cinemas brasileiros quase um ano após a exibição no Festival do Rio. O longa também foi destaque no Festival de Sundance em 2013.
A trama gira em torno de May (Dabis), uma escritora consagrada que mora em Nova York. Prestes a se casar, ela visita a família em Amã, na Jordânia. Lá, é obrigada a lidar com as divergências com a mãe, uma senhora católica fervorosa que desaprova o noivado da filha com um mulçumano. Ao mesmo tempo, tenta retomar o contato com as irmãs e sofre certo desconforto sempre que encontra o pai, agora casado com uma mulher que tem a idade de May e que insistem em ser tratada como uma figura materna.
Algumas relações são bem clichês, mas por outro lado o longa oferece um bom drama. É interessante a opção da diretora em retratar o radicalismo religioso do ponto de vista católico. Muitas vezes, o cenário é o oposto no cinema mundial, com o mulçumano surgindo como o intolerante. Neste sentido, reforça a ideia de que todo radicalismo é ruim, não importando a religião.
Hiam Abbass interpreta a mãe conservadora e faz um trabalho impressionante. Ainda que seja uma atuação mais caricata, Bill Pullman também está bem na pele do pai descolado que quer parecer muito mais novo do que realmente é. O elenco conta ainda com as presenças de Alexander Siddig, Elie Mitri e Alia Shawkat. A atriz de Arrested Development interpreta a irmã de May e se sai bem na pele de uma jovem inquieta e cheia de dúvidas.
O filme fala sobre costumes e tradições de uma forma leve e sem preconceitos. Se por um lado isso é bom por evitar o melodrama, também é um pouco ruim por deixar de lado questões sociais importantes envolvendo a Jordânia e as religiões tratadas. Acaba passando mais como um cartão postal do local do que como um guia.
Ainda assim, o longa conta com muita força, principalmente por conta de sua personagem principal, uma mulher complexa, que é ao mesmo tempo independente e presa, não às tradições, mas à família.
Cherien Dabis consegue debater fé, culturas e a posição da mulher no mundo de hoje. Também retrata as inquietudes do dia a dia e a luta para tentar se enquadrar naquilo que se espera de você. Tem alguns problemas, mas é bastante interessante.