Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Serra Pelada

HIstória cabeluda

por Roberto Cunha

A ideia de usar um evento verdadeiro como pano de fundo para uma ficção costuma dar bons frutos e Serra Pelada não foge a regra, revelando o que o poder, seja ele qual for, costuma fazer com os homens.

A notícia da descoberta de ouro no Brasil leva dois amigos de longa data (Juliano Cazarré e Júlio Andrade) em direção ao garimpo na mata, para juntar uma grana e voltar para a civilização. Uma vez lá, e ao lado de milhares de pessoas, entram em contato com as leis locais. Ou a falta delas. Só que enquanto um se esforça para manter os valores morais, dignos de um professor e pai de família, o outro se adaptou de maneira camaleônica ao ambiente inóspito: "Eu gostei de matar". É quando as diferenças entre eles passam a "brilhar" e, tal qual os perigosos barrancos do ouro, a amizade começa a desmoronar.

Escrito e dirigido por Heitor Dhalia, o roteiro é bastante didático e funcional, revelando detalhes interessantes daquela "estrutura" no meio da selva. E isso não compromete o resultado, uma vez que a ideia era acrescentar conteúdo, falando da hierarquia entre os garimpeiros, dos interesses do governo, a Malária, a chegada da AIDS etc. Por outro lado, o uso excessivo da narração de um dos protagonistas pode incomodar muita gente, porque um diálogo bem construído sempre será mais vigoroso. Felizmente, a voz não é de Wagner Moura porque seria inevitável não pensar nos dois Tropas. O ator, por sinal, rouba a cena como um manda-chuva local, cruel, frio e, veja você, engraçado.

Sobre os atores, Andrade encabeça bem o elenco ao lado de Cazarré, bastante convincente como fodão da selva. Matheus Nachtergaele mantém seu bom padrão e Sophie Charlotte faz sua estreia com chave-de-perna, quer dizer de ouro, protagonizando cenas mais tórridas que os telespectadores estão acostumados a ver na telinha. Entre os destaques, o belo trabalho de reconstituição e efeitos merece atenção, seja na Las Vegas da selva (onde tudo acontecia) ou no garimpo propriamente dito. Misturando com maestria cenas novas e de arquivo, Serra Pelada é um legítimo faroeste amazônico, cheio de tiros, mortes (sem muito aprofundamento, como deveria ser por lá), mantendo uma boa atmosfera de tensão numa trama com boa trilha sonora, elementos de traição, vingança, sexo e alguma emoção.