O sonho e a realidade
por Francisco RussoRânia é uma garota que leva uma vida bastante parecida à de tantas outras do local onde mora. De origem humilde, divide seu tempo entre ajudar a mãe nos afazeres de casa e na labuta diária como costureira, com os estudos no colégio e trabalhando como ajudante em um quiosque na praia. Seu grande prazer é dançar; o sonho é viver da paixão. Apesar de se dedicar às aulas de dança no colégio, a única saída aparente é se apresentar em uma boate. Até o surgimento de uma badalada coreógrafa, que pode levá-la para sua companhia de dança.
A história de Rânia, o filme, é um olhar sobre um momento de vida de Rânia, a personagem principal interpretada com garra por Graziela Felix. Vivendo em meio ao possível, ela aspira sonhos ao mesmo tempo em que se adequa à realidade. Há no filme um lado muito forte no sentido da denúncia, da falta de perspectiva dos jovens em um cenário de vida tão limitador. Por mais que Rânia sonhe, e se esforce para que os sonhos se tornem realidade, há empecilhos no dia a dia que simplesmente impedem, ou ao menos dificultam bastante, que algo saia do lugar. É esta imobilidade, em parte econômica mas também cultural, o grande tema do longa-metragem dirigido por Roberta Marques.
Entretanto, por mais que aborde temas relevantes, Rânia sofre alguns problemas sérios. O maior deles é de ritmo. Lento, o filme em vários momentos aparenta estar andando em círculos, tal qual sua própria personagem principal. Por mais que a iniciativa seja apresentar um retrato fiel sobre a paralisia de sua vida, tamanha lentidão acaba cansando – algo grave para um filme de apenas 85 minutos. Além disto, o longa-metragem sofre com problemas de áudio. Há várias cenas em que é difícil compreender o que os personagens dizem, devido à deficiência na captação do som quando a sequência em questão foi rodada. Fora certos "facilitadores de roteiro", como a súbita aparição da coreógrafa interpretada por
Mariana Lima (mera participação especial), que se deslumbra com Rânia sem grandes motivos.
Como um todo, Rânia conta mais com boas intenções do que qualquer outra coisa. As limitações técnicas e de roteiro acabam prejudicando bastante a abordagem desta história que, por mais que seja tipicamente brasileira, acaba não funcionando bem como cinema.